Sofia dorme no colo da tia, Margareth, que mal se mexe, enternecida, velando seu sono. Acorda sorridente, diante da chegada da equipe do Jornal do Commercio, e começa a dançar pela sala, com um pente cor-de-rosa na mão, tentando pentear o cachorrinho Fidel. O telefone não para de tocar. Os presentes se acumulam: fantasias, brinquedos, roupinhas adequadas ao clima local. Alguns objetos queridos, trazidos do outro lado do mundo, já se amontoam sobre o sofá de chita de onde sua mãe, Vitória, junto com outras tias e amigas, observam a animação da pequena e caem na gargalhada quando ela, mirando o mar de Olinda, dispara: “nesse mar tem muito peixe, tem até um tubarão”.
A inocência e alegria da menina compensam os 20 dias de angústia que sua família enfrentou, diante da ameaça de perdê-la para o Barnevernet (conselho tutelar norueguês). “Além do medo, eu não aguentava mais tomar banho de cuia”, confessa Vitória, explicando que não havia infraestrutura adequada à moradia na embaixada brasileira em Oslo, projetada para ser apenas escritório.
Visivelmente cansada, mas feliz, ela conta que mal conseguiu dormir desde que chegou, na noite da última quarta. “Minha cabeça ainda está na Noruega, ainda me sinto traumatizada. Mas só de estar com minha família, minha bateria já deu uma boa recarregada”.
“As preces das mães arrombam as portas do céu”, postou alguém em seu perfil do Facebook. A comoção generalizada remete a um vínculo universalmente sagrado que estaria sendo desrespeitado pelas autoridades norueguesas. A esperteza de Vitória, que teve a ideia de ser a primeira a pedir asilo na embaixada brasileira, e a rapidez de Alberto, pai de Sofia (que aliou-se à mãe numa fuga improvável e cinematográfica, conseguindo chegar à embaixada segundos antes de seus perseguidores) transformaram o caso em algo de dimensão internacional.
Apesar de tímida, Vitória é enfática ao afirmar que seu caso não é o único, e que outras famílias que se encontram na mesma situação. Quando consegue esquecer seu drama, ela confessa seus planos: estabilizar-se emocionalmente, fazer com que Sofia siga uma boa rotina escolar, e conseguir um emprego para sustentar a si e à filha. “Vou recomeçar do zero. Estou voltando à vida”, se emociona.
Leia mais na edição desta sexta-feira (20) no JC.