CARACAS - Os protestos que têm ocorrido nos últimos dias na Venezuela dividem opiniões. Inicialmente convocadas por universitários contra a insegurança e a situação econômica, as manifestações são classificadas como uma tentativa de golpe de Estado pelo governo, que acusa setores radicais da oposição e os Estados Unidos de promoverem o caos.
Quando e por que começaram as manifestações estudantis?
A primeira manifestação foi organizada no dia 4 de fevereiro em San Cristóbal (no Estado de Táchira, oeste) contra a insegurança nos campi universitários, depois de uma estudante da Universidade dos Andes ter sofrido uma tentativa de estupro. O protesto se alastrou para outras cidades, incorporando críticas à situação econômica (como a inflação e o desabastecimento) e apelos à libertação de estudantes detidos.
Em que momento os incidentes começaram?
Os primeiros incidentes graves ocorreram no dia 6 de fevereiro, quando grupos de jovens com os rostos cobertos atacaram com pedras e coquetéis molotov a sede do governo do Estado de Táchira, em San Cristóbal. O movimento estudantil negou envolvimento com essa ação. No dia 12, em protestos em Caracas, confrontos entre grupos de estudantes e pessoas com distintivos oficiais deixaram três mortos e dezenas de presos. Desde então, depois dos protestos diários em Chacao, região metropolitana de Caracas, um grupo tem causado destruição nas ruas.
Que grupos políticos apoiam as mobilizações?
As marchas ganharam apoio dos setores radicais da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD),principalmente de Leopoldo López - líder do partido Vontade Popular - da deputada independente Maria Corina Machado e do prefeito de Caracas, Antonio Ledesma. López teve sua prisão decretada pela Justiça.Com o lema La Salida (A Saída), esse grupo promove uma tática de ocupar as ruas para forçar a saída do presidente Nicolas Maduro, eleito em abril de 2013 por uma pequena margem de votos.
Existem mecanismos constitucionais para uma saída antecipada do presidente?
Na Venezuela, existe o referendo revogatório, no qual os eleitores decidem se o presidente deve continuar no poder. Mas a coleta de assinaturas para convocá-lo só pode começar depois da metade do mandato, a partir de abril de 2016. Alternativas seriam a renúncia do presidente (algo que Maduro descarta) e um processo político por mau desempenho das funções públicas, que pode ser iniciado pelo Tribunal Superior de Justiça.
Qual a posição do líder opositor e ex-candidato presidencial Henrique Capriles?
Capriles e o setor moderado da MUD se distanciaram das ações mais radicais de ocupação das ruas. Na quinta, ele afirmou que a oposição deve continuar "canalizando seu descontentamento", mas advertiu que "não há condições de pressionar a saída do governo".
Qual a posição do governo sobre os protestos?
O presidente Nicolás Maduro considerou que as manifestações são um golpe de Estado em andamento, tramado pelo que definiu como grupos fascistas apoiados pelos Estados Unidos e pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe.