Guerra

Ucranianos manifestam temor de invasão russa

O risco de guerra com a Rússia aumenta cada vez mais, de acordo com autoridades ucranianas, que fizeram um alerta hoje

AFP
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Publicado em 23/03/2014 às 13:11
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O risco de guerra com a Rússia aumenta cada vez mais, de acordo com autoridades ucranianas, que fizeram neste domingo um alerta, enquanto milhares de pessoas se reuniam na Praça da Independência de Kiev para apoiar a unidade nacional.

O risco "aumenta", "a situação é inclusive mais explosiva do que era há uma semana", considerou o chefe da diplomacia ucraniana Andrei Dechtchitsa, consultado pela rede americana ABC sobre um eventual conflito militar.

As tropas russas de Vladimir Putin estão preparadas para atacar a Ucrânia "a qualquer momento", declarou neste domingo o secretário do Conselho de Segurança Nacional e de Defesa ucraniano, Andrei Parubi, em um palanque na Maidan, a Praça da Independência, onde ele foi o "comandante" durante a queda de braço entre o movimento de contestação e o presidente Viktor Yanukovytch, atualmente deposto.

"O alvo de Putin não é a Crimeia, mas toda a Ucrânia (...) Suas tropas mobilizadas na fronteira estão preparadas para atacar a qualquer momento", declarou Parubi diante de cerca de cinco mil pessoas no centro de Kiev.

"Na imaginação maníaca de Putin, a Ucrânia deve fazer parte da Rússia", acrescentou.

Quase simultaneamente, o Ministério russo da Defesa indicou que Moscou "respeita todos os acordos internacionais sobre a limitação das tropas nas regiões da fronteira com a Ucrânia".

A manifestação "pela unidade nacional" na Maidan foi convocada como resposta à agitação separatista no leste e à tomada das últimas bases ucranianas na Crimeia pelos russos.

As duas questões estão intimamente ligadas, como mostrou um apelo feito pelo primeiro-ministro da Crimeia, anexada à Rússia, para que o povo ucraniano reflita sobre o que fez a península.

Em sua página no Facebook, Serguei Axionov projetou uma imagem apocalíptica das consequências econômicas da assinatura do acordo de associação entre a Ucrânia e a UE: "impostos elevados sem justificativa, aumento dos preços e do desemprego, idade de aposentadoria ampliada para além da expectativa de vida média".

Aventureiros e oligarcas

"Não tenho o direito de pedir a vocês que se separem da Ucrânia!", prosseguiu Axionov. (...) Peço que se oponham à escolha feita em seu lugar por um punhado de aventureiros políticos financiados pelos oligarcas (...), que defendam seus direitos e seus interesses. Estou profundamente convencido de que essa defesa passa por uma aliança estreita com a Federação da Rússia, por uma aliança política, econômica e cultural".
   
Essas declarações podem ter impacto em parte dos habitantes do leste da Ucrânia. No sábado, cerca de 4.000 pessoas participaram de uma manifestação em Donetsk, agitando bandeiras russas e pedindo a volta de Viktor Yanukovytch.

Atos parecidos aconteceram neste domingo em Odessa (sul), Kharkiv (leste) e de novo em Donetsk.

Na véspera, soldados de elite russos atirando para o alto e apoiados por veículos blindados, tomaram outra base ucraniana na Crimeia, mostrando mais uma vez a determinação de Moscou frente às sanções e aos esforços diplomáticos do Ocidente.

Forças russas tomaram o controle de vários navios de guerra ucranianos na Crimeia nos últimos dias. O ministro da Defesa Igor Teniukh lamentou neste domingo a perda dessas unidades ocorrida "apesar do fato de todos os comandantes terem recebido ordens para usar as armas" .

"Para evitar um derramamento de sangue, eles não recorreram às armas", acrescentou.

A demonstração de força da Rússia coincidiu com as acusações feitas na véspera pela Alemanha, importante parceira econômica do governo russo, acusando-o de "dividir a Europa", nas palavras do chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, em visita a Kiev.

Seu homólogo russo, Serguei Lavrov, pode esperar uma nova repreensão quando se reunir com o secretário de Estado americano, John Kerry. Seu encontro, dedicado à Ucrânia, está previsto para ser realizado durante uma cúpula em Haia, convocada para segunda e terça-feira pelo presidente Barack Obama.

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, convidado para a cúpula, cancelou sua participação, explicando neste domingo no Conselho de Ministros que deve se reunir na segunda com uma missão do Fundo Monetário Internacional para a Ucrânia. Kiev pede pelo menos 15 bilhões de dólares para evitar uma quebra.

O FMI exige em troca de Kiev medidas de austeridade e, principalmente, uma redução dos subsídios aos preços do gás para a população.

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