EUA

Michelle Obama e Bill Clinton lembram Maya Angelou

A primeira-dama e o ex-presidente participaram neste sábado de um memorial

Da AE
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Publicado em 07/06/2014 às 19:13
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A primeira-dama Michelle Obama e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton participaram neste sábado de um memorial em homenagem à poeta e ativista pelos direitos dos negros Maya Angelou, que morreu em 28 de maio aos 86 anos. Durante a cerimônia em Winston-Salem (Carolina do Norte), Michelle disse que Angelou foi a primeira pessoa a lhe mostrar que ela podia ser uma mulher negra forte e inteligente.

O ex-presidente Clinton disse que Angelou, uma das mais famosas escritoras negras do século 20, parece ter vivido "cinco vidas em uma". Da cerimônia, realizada no campus da Universidade Wake Forest, onde Angelou foi professora durante décadas, também participou a apresentadora de televisão Oprah Winfrey, de quem a poeta foi mentora.

A primeira-dama contou como a leitura do poema "Mulher Fenomenal", de Angelou, transformou uma menina negra que cresceu na zona sul de Chicago e brincava com bonecas Barbie. "Ela celebrou a beleza da mulher negra como ninguém havia ousado fazer antes. Nossas curvas, nossa maneira de andar, nossa força, nossa graça. Suas palavras eram inteligentes e provocadoras. Elas eram poderosas, e sensuais, e cheias de orgulho", disse Michelle Obama.

Alta e majestosa, Angelou acrescentava peso a suas palavras com uma voz profunda e sonora, descrevendo-se a si mesma como uma poeta "apaixonada pela música da linguagem". Em janeiro de 1993, ela recitou o poema mais popular na história das cerimônias de posse de presidentes dos EUA, "No Pulso da Manhã", abrindo o primeiro mandato de Bill Clinton.

Clinton disse lembrar-se daquela voz - e de como Angelou havia decidido não falar durante cinco anos, depois de ser estuprada, ainda criança, pelo namorado de sua mãe. "Ela não teve voz durante cinco anos, e então desenvolveu a voz mais grande do mundo. Deus lhe emprestou Sua voz. Ela tinha a voz de Deus, e Ele decidiu que queria aquela voz de volta por algum tempo", afirmou o ex-presidente.

"Nós poderíamos ficar aqui falando sobre como Maya Angelou representou uma grande parcela da história americana. E triunfou sobre as adversidades. E provou como o racismo é imbecil", disse Clinton. Entre os amigos de Angelou estiveram grandes figuras do movimento contra o racismo, entre elas o líder sul-africano Nelson Mandela e o dirigente do movimento radical negro norte-americano Malcolm X.

A cerimônia deste sábado incluiu a execução de muitas canções gospel. Houve momentos de lágrimas e também de riso, conforme os amigos de Angelou lembravam tanto de sua fé como de seu bom humor. Na Universidade Wake Forest, onde lecionava, a poeta era chamada de "doutora Angelou", em sinal de respeito pelos muitos títulos honorários que recebeu; ela nunca chegou a se formar em um curso superior.

Durante o serviço memorial, Oprah Winfrey lembrou Angelou como sua "rainha mãe espiritual" e que sempre tomava notas quando as duas conversavam pelo telefone. Oprah chorou várias vezes ao descrever Angelou como uma influência vital em sua carreira. Dizendo ter dificuldade para explicar com palavras o que Angelou significou para ela, a apresentadora disse que não devia palavras à poeta, e sim ações. "Não tenho como calçar seus sapatos, mas posso caminhar sobre suas pegadas", acrescentou.

Nascida com o nome de Marguerite Johnson, em St. Louis (Missouri), e criada em Stamps (Arkansas) e San Francisco (Califórnia), Maya Angelou começou a escrever poesia aos nove anos de idade. Deu à luz como mãe solteira aos 17 anos; trabalhou como dançarina de strip tease e prostituta. Foi a primeira negra a trabalhar como condutora de bondes em San Francisco. Atuou como comediante, tendo sido parceira de Phyllis Diller. Foi aconselhada no começo de sua carreira por outra artista e ex-prostituta, a cantora de jazz Billie Holiday. Escreveu músicas e peças de teatro. Como atriz, foi indicada ao prêmio Emmy por sua atuação na minissérie para televisão "Raízes", nos anos 1970. Como dançarina, atuou sob a direção do coreógrafo Alvin Ailey.

Angelou também foi coordenadora da Conferência da Liderança Cristã do Sul. Em 1968, ela estava assessorando o reverendo Martin Luther King Jr. na organização da Marcha do Povo Pobre, em Memphis (Tennessee), quando ele foi assassinado - por coincidência, no dia do 40º aniversário de Angelou. Ela também viveu por alguns anos no Egito e em Gana, na África, onde conheceu Nelson Mandela antes de ele ser preso pelo regime racista sul-africano.

Bill Clinton disse ter conhecido Angelou por meio de sua autobiografia, "Eu Sei Por Que o Pássaro Engaiolado Canta". Ele nasceu e foi criado no Arkansas, a apenas 30 km de onde ela passou sua infância, e disse que o poder da poesia dela foi amplificado porque ela tinha muita familiaridade com o mundo que a cercava.

O ex-presidente comparou Angelou a um vagalume que podia acender nos momentos mais inesperados, "iluminando coisas que estavam diante do nosso nariz e que estávamos negligenciando, algo em nossas mentes que estávamos mantendo enterrado. Algo em nossos corações que estávamos com medo de enfrentar".

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