Ashraf Ghani, ex-ministro e professor universitário, será empossado novo presidente do Afeganistão, de onde a Otan vai se retirar antes de dezembro, sem ter derrotado a insurgência talibã, após uma intervenção de 13 anos.
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Ghani, de 65 anos, sucederá Hamid Karzai, após uma crise de três meses em torno dos resultados das eleições presidenciais de junho, que alimentaram a insurgência e pioraram as perspectivas do país.
A cerimônia será a primeira transição democrática do país, um dos objetivos da cara intervenção internacional - militar e civil - desde a queda do regime dos talibãs, em 2001.
Tanto Ghani quanto seu adversário, Abdullah Abdullah, tinham reivindicado a vitória no segundo turno das eleições de 14 de junho. Pressionados pela ONU e pelos Estados Unidos e após uma auditoria dos quase oito milhões de votos, ambos aceitaram formar um governo de unidade nacional, tendo Ghani como presidente.
Abdulllah também prestará juramento nesta segunda como chefe do Executivo, um papel similar ao de primeiro-ministro, em uma estrutura de poder menos presidencialista do que a que marcou o mandato de Karzai.
Karzai manteve tensas relações com a coalizão da Otan, liderada pelos Estados Unidos e com doadores internacionais.
"Fizemos muitos esforços para o advento de uma paz duradoura, mas infelizmente nossas esperanças não se concretizaram por completo, mas devo dizer-lhes que a paz certamente chegará", disse Karzai durante seu discurso de despedida à nação, na noite deste domingo.
"Amanhã vou transferir as responsabilidades do governo ao presidente eleito e vou começar a minha vida como (simples) cidadão do Afeganistão", prosseguiu. "Apoiarei firmemente o novo presidente, o governo e a Constituição, e estarei ao seu serviço", afirmou o presidente em fim de mandato.
Ghani e Abdullah, considerados moderados pró-ocidentais, prometeram seguir o caminho dos avanços sociais e nas infra-estruturas alcançados desde 2001, mas enfrentaram, por sua vez, a grande ameaça dos talibãs.
A insegurança ficou palpável novamente este domingo, com a explosão de uma bomba na porta de um veículo nos arredores do complexo presidencial de Cabul, deixando ferido o motorista.
O exército e a polícia afegãos, integrados por 350.000 homens, enfrentam dificuldades para recuperar o terreno perdido para os talibãs, que lançaram uma grande ofensiva nos últimos meses em várias províncias.
Segundo a ONU, 2.300 civis morreram nos primeiros oito meses do ano, devido à insegurança.
Enquanto isso, os 41.000 soldados da Otan - entre eles 29.000 americanos - se preparam para fazer as malas antes do fim do ano. Só 33 bases da Aliança Atlântica permanecem ativas contra 800 no auge da operação.
- "Um só povo" -
O novo governo afegão tem previsto assinar na terça-feira um acordo - rejeitado por Karzai-, que autoriza a 12.500 soldados, sobretudo americanos, permanecer no país durante 2015 para apoiar e formar o exército e a polícia afegãos.
"A transição política foi um sucesso", disse na sexta-feira Ghani, que se comprometeu a estabilizar a economia e a enfrentar a insegurança, apesar de que, por enquanto, parece improvável que se mantenham negociações de paz com os talibãs.
"Somos um só povo, um país, e não deveria haver dúvidas sobre a nossa unidade nacional", afirmou.
Os resultados finais consagraram vencedor Ghani perante Abdullah (55% contra 45% dos votos), apesar de a ONU ter denunciado uma "fraude significativa" nas eleições.
As bandeiras afegãs foram içadas nas principais estradas de Cabul e as autoridades preparam um grande evento para a cerimônia de posse, na segunda-feira.
A agenda e a lista de convidados à cerimônia não foram revelados por medo de ataque dos insurgentes.
Ghani foi ministro das Finanças entre 2002-2004 e se apresentou às presidenciais de 2009, obtendo apenas 3% dos votos.
Karzai, que não pôde se apresentar a um terceiro mandato, como determina a Constituição, tem afirmado que pretende se aposentar, mas é provável que, além dos propósitos manifestados em seu discurso de despedida, mantenha um papel influente na política afegã.