Os jihadistas do Estado Islâmico (EI) intensificavam nesta quinta-feira (2) seu cerco sobre Kobane, uma cidade curda síria de valor estratégico junto à fronteira com a Turquia, apesar dos bombardeios da coalizão.
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O parlamento da cidade se prepara para aprovar uma intervenção contra o grupo extremista.
"Os jihadistas já estão menos de um quilômetro a leste e a sudeste de Kobane, e a cidade está completamente asfixiada", com exceção do acesso ao norte, que leva à Turquia, explicou o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
Segundo ele, os milicianos curdos, menos numerosos e não tão bem armados, estão decididos a travar batalhas nas ruas para defender Kobane, chamada de Ain al-Arab em árabe.
"Estamos prontos para o combate", confirmou um comando curdo local, Idris Nahsen.
Do lado turco da fronteira podia ser ouvido o ruído contínuo dos morteiros.
Segundo o OSDH, que conta com uma ampla rede de informantes em terra, 90% da população de Kobane fugiu, e os povoados vizinhos "estão quase desertos e controlados pelo EI".
Segundo Rami Abdel Rahman, a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos voltou a bombardear de madrugada posições do EI perto de Kobane.
Mas nem eles, nem os bombardeios aéreos de quarta-feira impediram o avanço dos extremistas, que se tomarem esta cidade curda controlarão uma ampla faixa de território ao longo da fronteira com a Turquia.
Turquia pronta para intervir
O EI controla muitas regiões no Iraque, no norte e no leste da Síria, devastada por mais de três anos de guerra civil. No dia 16 de setembro, lançou sua ofensiva sobre Kobane, e pelo caminho tomou 70 povoados, provocando a fuga à Turquia de 160.000 pessoas.
Diante da ameaça crescente em sua fronteira, o Parlamento turco começou a debater nesta quinta-feira uma moção do governo que autoriza o exército a intervir no Iraque e na Síria, dentro de uma coalizão dirigida pelos Estados Unidos, na qual estão envolvidos em diversos graus cinquenta países árabes e ocidentais.
O texto, que deve ser aprovado sem dificuldades, também prevê o posicionamento ou o trânsito pela Turquia dos soldados estrangeiros que tomarem parte destas operações.
Além disso, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, advertiu na quarta-feira a coalizão que mais vale pensar em uma solução duradoura no Iraque e na Síria e não se contentar em lançar toneladas de bombas contra os jihadistas.
Levará anos
Os Estados Unidos, que bombardeiam alvos jihadistas na Síria desde o dia 23 de setembro e no Iraque desde 8 de agosto, advertiram que não será fácil ou rápido terminar com o EI.
O general americano John Allen, que coordena a coalizão internacional, afirmou que talvez demore anos para treinar com eficácia uma força rebelde síria moderada capaz de se impor aos sunitas ultrarradicais.
Na Síria, Washington já começou a treinar rebeldes moderados que lutam tanto contra o EI como contra o regime. O objetivo é recrutar uma média de 5.000 soldados por ano.
Por outro lado, centenas de pessoas se manifestaram nesta quinta-feira em Homs (centro) contra o governador Tala Barazi, um dia após um duplo atentado matar 47 crianças de uma escola, segundo o OSDH. O ato não foi reivindicado, mas lembra o modus operandi dos jihadistas.
ONU denuncia atrocidades
Enquanto isso, no Iraque, as forças curdas, apoiadas pelos ataques aéreos americanos e britânicos, seguem em confronto com jihadistas em várias frentes ao norte e a oeste de Bagdá, depois de tomar a localidade de Rabia, na fronteira com a Síria.
No Iraque, os extremistas lançaram dois grandes ataques contra bases militares e da polícia a oeste de Bagdá.
Dezessete membros das forças de segurança e 40 jihadistas morreram nos ataques do EI ao quartel-general da polícia de Hit e a uma base militar de Hamadi.
A ONU afirmou nesta quinta-feira em um relatório que os jihadistas do EI cometeram no Iraque crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Estas violações dos direitos humanos, "aparentemente sistemáticas e estendidas", incluem "ataques diretos contra civis e infraestruturas civis, execuções e outros assassinatos de civis, sequestros, estupros e outras formas de agressões sexuais e físicas contra mulheres e crianças, e o recrutamento forçado de crianças".
O papa Francisco também criticou os jihadistas, afirmando sem citá-los que nenhuma razão religiosa, política ou econômica pode justificar a perseguição diária sofrida por "centenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes" no Iraque e na Síria.