Atualizada às 11h05
Os estudantes que lideram o movimento pró-democracia em Hong Kong se reuniram pela primeira vez nesta terça-feira com autoridades locais para iniciar um diálogo que dificilmente acabará com a crise nesta ex-colônia britânica.
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As negociações são realizadas na Faculdade de Medicina na presença de cinco delegados de associações estudantis e cinco líderes políticos do governo de Hong Kong, incluindo a número dois, Carrie Lam, e Lau Kong-wah, responsável pelos assuntos constitucionais.
"Espero que este diálogo reduza o clima de tensão social", declarou Carrie Lam.
Este é o primeiro encontro desde 28 de setembro, quando o movimento de desobediência civil ganhou força defendendo um verdadeiro sufrágio universal no território.
Os estudantes, que saíram em massa às ruas nos primeiros dias do movimento, ocupam há várias semanas três bairros do centro financeiro. Embora o número de manifestantes tenha diminuído significativamente com o passar dos dias, os transportes públicos, o trânsito e a atividade econômica seguem perturbados.
Pouco antes da reunião, o chefe do governo de Hong Kong, Leung Chun-ying, advertiu que os manifestantes não devem alimentar ilusões quanto a eleições totalmente livres em 2017.
Em um território onde 20% dos sete milhões de habitantes vivem abaixo da linha da pobreza, o sufrágio universal pleno daria mais poder de decisão aos menos favorecidos.
Para Leung, um ex-empresário, isso seria inaceitável, uma vez que muitos investidores deixariam a ex-colônia britânica, que, desta forma, perderia a sua fama de centro financeiro mundial.
"Se fosse apenas um jogo de nomes e representação numérica, falaríamos de metade da população de Hong Kong, que ganha menos de US$ 1.800 por mês", declarou Leung.
Muitas preocupações
A China aceita o princípio de sufrágio universal para a eleição do próximo presidente do executivo em 2017, mas pretende continuar a controlar o processo eleitoral indicando os candidatos.
Pela primeira vez desde o início da crise, o governo concordou em se reunir com os estudantes para discutir uma reforma da Constituição. Mas poucos observadores esperam que Pequim, que teme um contágio democrático, mude sua posição, ou que os alunos deixem as ruas.
"Estou muito preocupada", declarou à AFP Claudia Mo, deputada pró-democracia. "Se, no final, for provado que tudo isso não passou de um espetáculo, um circo político com animais políticos, as pessoas vão voltar às ruas".
"As pessoas não estão otimistas", diz Joseph Cheng, analista e ativista pró-democracia. "Ninguém no campo da pró-democracia espera que Pequim faça a menor das concessões".
Nas duas últimas semanas, depois de a polícia ter usado gás lacrimogêneo contra os manifestantes, as mobilizações têm sido mais pacíficas. Mas a tensão voltou a crescer nos últimos dias devido à intervenção das forças de segurança para desbloquear algumas ruas.
Elas tiveram êxito em Causeway Bay, um bairro comercial, e em Almiralty, perto da sede do poder, mas não conseguiram desocupar Mongkok, no sul do continente, em frente à ilha de Hong Kong.
Colusão com a elite
As negociações podem se prolongar indefinidamente. "Uma única sessão de negociações será insuficiente para resolver todos os problemas, mas negociar já é um bom ponto de partida", declarou o presidente executivo à imprensa nesta terça-feira.
Os manifestantes, jovens em sua maioria, estão preocupados com seu futuro político e econômico, já que a desigualdade social é cada vez maior.
A chegada de chineses do "continente", a quem culpam em parte pelo aumento do custo de vida, explica este sentimento, assim como a percepção da geração mais jovem de um conluio entre o governo e a elite financeira.