De vídeos postados na internet a comentários de seus combatentes nas redes sociais, a propaganda do grupo Estado Islâmico (EI) diversifica os canais para impactar os meios de comunicação sem revelar informações estratégicas a seus inimigos.
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Especialistas e jornalistas concordam em dizer que se trata de uma evolução na comunicação dos jihadistas desde a ofensiva lançada contra a cidade curda síria de Kobane, na fronteira com a Turquia, e os combates contra a coalizão internacional.
Após percorrer as redes sociais e plataformas na internet para divulgar seus pontos de vista, o EI parece ter compreendido que as imagens difundidas por seus combatentes poderiam ser utilizadas como uma faca de dois gumes ao permitir aos serviços secretos identificar suas forças e localizar sua presença.
"As redes sociais servem muito para recrutar novos integrantes", destaca o cientista político Abdelasiem El Difraui, que destaca a adesão ao grupo extremistas de muitos ocidentais "que nasceram com a internet e que se sentem muito a vontade com este veículo".
"Mas esta tática também colocou em perigo sua segurança operacional, então ajustaram os parafusos", destaca o pesquisador, autor de "Al-Qaeda através da imagem" e "Cadernos egípcios".
"Antes da intervenção da coalizão, havia um incentivo para que seus membros postassem fotos nas redes sociais. A ordem era 'mostrem uma imagem positiva de nós' para facilitar o recrutamento", explica David Thomson, jornalista da Radio France International (RFI) e autor de "Os jihadistas franceses".
O tom mudou agora, de acordo com o especialista. "No início da ofensiva, em meados de setembro, um documento oficial de uma página em nome do Estado Islâmico foi distribuído entre os seus membros, solicitando que os combatentes parassem de filmar ou fotografar suas ações com o celular."
A ordem "se aplica com rigor variável, porque não impediu que alguns continuassem a postar fotos ou selfies", diz ele.
A mudança também é visível nos vídeos transmitidos para a mídia.
"Desde o início, em relação ao que temos visto na Síria, percebemos que os jihadistas têm evoluído em sua maneira de divulgar informações. Adaptaram-se às necessidades da imprensa", observa Henry Bouvier, chefe do setor de vídeo da sede da AFP.
Aparência jornalística
As zonas controladas pelo EI são inacessíveis aos jornalistas. Desta forma, apenas as imagens gravadas e postadas na internet pelo próprio Estado Islâmico e organizações afiliadas são exibidas nos meios de comunicação.
Diferentemente dos vídeos de decapitações de jornalistas e trabalhadores humanitários destinados a espalhar o terror que a maioria dos meios comunicação, incluindo a AFP, recusaram-se a repercutir, as imagens transmitidas pelo grupo sobre os combates em Kobane correspondem mais aos critérios de reportagem.
Destinadas à imprensa ocidental, as imagens estão sobretudo no canal do Youtube Aamaq News, próximo do EI. "Eles sabem que para que suas imagens sejam transmitidas precisam respeitar certos códigos", diz Henry Bouvier.
"Cada vez mais, quando podem fazê-lo, mostram locais identificáveis , como fizeram recentemente com o centro cultural de Kobane, o que permite autentificar as imagens", ressalta.
"Fazem imagens como as utilizadas na TV, sem música ou efeitos especiais. Mesmo a maneira de apresentar as pessoas ou falar, tem cada vez mais o aspecto de neutralidade jornalística", acrescenta.
A diretora de informação do grupo francês Canal+, Céline Pigalle, constatou recentemente que as imagens do EI foram produzidas por uma agência dedicada especificamente a este fim" e, nesse sentido, mostram "grande profissionalismo".
Embora esses vídeos tenham a intenção de serem informativos, há outras imagens destinadas à propaganda, que adotam códigos de Hollywood ou de videogame: câmera lenta, música e efeitos visuais para a glória dos combatentes do EI.
"O Estado Islâmico tem diversos canais de comunicação: um interno, com um sistema criptografado que é muito difícil de acessar, outro para o Ocidente e um terceiro para as populações sob seu controle", destaca Abdelasiem El Difraui.