A Ucrânia encerra nesta sexta-feira a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de domingo, com as quais os pró-ocidentais que conduziram o movimento de contestação da Praça Maidan esperam reforçar seu poder, em plena crisa com a Rússia no leste separatista pró-russo.
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As eleições ocorrem num período extremamente difícil para esta ex-república soviética às portas da União Europeia e que perdeu em março a península da Crimeia, anexada pela Rússia, e que enfrenta uma insurreição armada pró-russa na região mineradora de Donbass, um conflito que já fez mais de 3.700 mortos desde meados de abril.
Mais de 824.000 pessoas precisaram deixar suas casas na Ucrânia devido o conflito, segundo o Alto Comissariado para os Refugiados da ONU: 430.000 pessoas se deslocaram no interior do país; 387.000 fugiram para a Rússia; 6.600 pediram asilo na União Europeia.
"Não haverá conflito velado, porque o Donbass não pode sobreviver sem a Ucrânia", assegurou nesta quinta-feira em Odessa o presidente Petro Poroshenko, cujo partido é o favorito para as eleições parlamentares.
No entanto, o processo de paz iniciado pelo presidente não foi suficiente para parar completamente os combates, e os separatistas, que controlam partes das regiões de Donetsk e Lugansk, se preparam para realizar as suas próprias eleições em 2 de novembro.
Um cessar-fogo foi alcançado no início de setembro entre Kiev e os rebeldes, com a participação da Rússia, mas intensos combates prosseguem em alguns redutos de resistência, provocando a morte de civis quase diariamente.
Nesta sexta-feira em Donetsk, disparos de artilharia eram ouvidos nos arredores do aeroporto, um dos pontos mais disputados nas últimas semanas.
Em Kiev, um porta-voz militar, Andrii Lysenko, relatou oito soldados feridos em 24 horas no leste.
Reformas econômicas
O presidente Poroshenko, em sua conta no Twitter, pediu aos ucranianos que votem em massa para "concluir a formação do novo poder iniciado em junho", assumindo as funções do pró-russo Viktor Yanukovytch, refugiado na Rússia desde fevereiro.
O movimento do presidente lidera as pesquisas com mais de 30% das intenções de votos, seguido por outras formações pró-ocidentais. Ele espera alcançar com essas eleições "uma maioria constitucional" para permitir a realização de reformas vitais para este país muito corrupto e em profunda recessão, agravada pelo conflito armado.
Pela primeira vez na história da Ucrânia pós-soviética, o Parlamento deve ser dominado por pró-ocidentais em razão do aumento de sentimentos anti-russos, enquanto 5 milhões dos 36,5 milhões de eleitores não poderão votar, já que vivem na Crimeia e em áreas controladas pelos rebeldes em Donbass, tradicionalmente pró-Rússia.
Duas formações herdeiras do Partido das Regiões, do presidente deposto Viktor Yanukovytch, a Ucrânia Forte e Bloco de Oposição, poderiam alcançar os 5% necessários para entrar no Parlamento, mas os comunistas podem nem chegar a ser representados.
A nova Assembleia incluirá, em contrapartida, ativistas da sociedade civil envolvidos na contestação de Maidan, bem como voluntários que lutaram no leste e querem fazer ouvir "a voz do front" no Parlamento.
Após as eleições, a primeira tarefa do chefe de Estado será construir uma coligação forte, capaz de adotar duras medidas de austeridade exigidas pelos credores internacionais da Ucrânia, o FMI e Bruxelas à frente.
O primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk alertou na quinta-feira que a Ucrânia deverá se concentrar para obter mais ajuda do FMI, que já investiu 17 bilhões no país.
"Precisamos formar o mais cedo possível um novo governo e convidar uma missão do Fundo Monetário Internacional", ressaltou Yatsenyuk. "Precisamos de mais ajuda", disse ele.
Com a aproximação do inverno, Kiev, que está privada do gás russo desde junho, também deve urgentemente resolver esta disputa com Moscou, que poderia interromper o fornecimento para a Europa.
A Rússia, atingida por duras sanções ocidentais sem precedentes, também sofre as consequências do conflito sobre sua economia. O rublo caiu nesta sexta-feira a níveis recorde face as moedas europeia e americana, com o euro ultrapassando os 53 rublos.