As agências das Nações Unidas especializadas em alimentação, agricultura e saúde, FAO e OMS, lançaram nesta quinta-feira (20), em Roma, uma campanha mundial para combater a obesidade e conscientizar para uma nutrição mais saudável e sustentável.
Leia Também
"Parte de nosso desequilibrado mundo ainda morre de fome, e a outra parte come até a obesidade, a ponto de a expectativa de vida ter voltado a retroceder", alertou Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), ao inaugurar a segunda conferência internacional sobre nutrição, depois da que foi realizada em 1992.
Diante de ministros e representantes de cerca de 190 países, empresas privadas e membros da sociedade civil, os diretores das duas entidades reconheceram que o estado nutricional da população no mundo todo mudou significativamente nas últimas duas décadas.
"O sistema alimentar não funciona mais devido à dependência que existe da produção industrial, que é cada vez mais barata e pior para a saúde", denunciou Chan.
Nas grandes cidades da África, da Ásia e da América Latina ficou mais barato importar alimentos processados por grandes indústrias, com especificações pouco claras, do que fazer chegar produtos frescos cultivados a poucos quilômetros.
UM PEDIDO À INDÚSTRIA - "É necessário pedir que sejam preparados pratos menos gordurosos, menos doces, menos salgados, mais equilibrados", disse Chan durante uma coletiva de imprensa.
"Não sabemos exatamente o que está contido na garrafa ou na lata que compramos. Os rótulos são um setor que deve ser regulamentado. É preciso educar as pessoas para lê-los. Antigamente, as avós ensinavam a comer bem, diziam que se deve comer verduras e tomar leite. Agora, ninguém mais diz isso. Seguramente não será a publicidade da televisão que o fará", comentou o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva
A introdução de uma regulamentação mais rígida para as indústrias de alimentos é um dos temores do setor, segundo reconheceu John Connelly, representante da indústria pesqueira presente na conferência.
Frente ao problema da "má nutrição", -que afeta 2 bilhões de pessoas, aproximadamente um terço da população do mundo em desenvolvimento- e da obesidade -com 500 milhões de adultos e 42 milhões de crianças obesas-, as duas organizações defenderam "um projeto comum de ação mundial" através de uma colaboração entre os governos, o setor privado, a sociedade civil e as comunidades.
Essa ação coletiva deve passar por políticas de nutrição que promovam "uma alimentação diversificada, equilibrada e saudável em todas as etapas da vida".
Os países signatários se comprometeram também a apresentar e a responder com resultados, um requisito que nunca havia sido exigido e que insta os Estados a "elaborar ou revisar seus planos nacionais de nutrição".
"Os países têm a criatividade para trabalhar junto com a sociedade civil, com a comunidade científica e com o setor privado a fim de encontrar boas soluções", assegurou Chan.
"Temos a responsabilidade de transformar esses compromissos em resultados concretos", reconheceu Graziano.
"Há alimentos suficientes para que todo mundo possa comer corretamente. Podemos nos transformar na geração que erradicou a fome e a desnutrição da história", afirmou.
Os debates continuarão até sexta-feira na sede da FAO em Roma, onde o papa Francisco é aguardado nesta quinta-feira.