Aplaudida de pé, a viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, recebeu na noite desta segunda-feira (24) o Troféu Raça Negra na Sala São Paulo, região central da capital paulista. O prêmio é considerado o Oscar da comunidade negra e chegou à 12.ª edição, homenageando o ex-presidente da África do Sul.
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Graça emocionou a plateia ao falar do ex-marido. "Quero trazer a voz dele esta noite", disse ela, e citou uma frase de Mandela em que afirmava que iria lutar por toda a sua vida por uma sociedade democrática e igualitária. "Lutei contra a dominação branca e a dominação negra. Espero viver e ver realizado meu ideal. Se necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer", parafraseou.
Ela solicitou que todos se comprometessem a fazer no dia a dia a luta pelas mesmas oportunidades a todos e também lembrou Zumbi dos Palmares. "Que os negros deste País, por direito próprio e não por favor, possam ocupar a centralidade das instituições. É o nosso dever honrar o legado de Zumbi e de Mandela. Prometemos que essa sociedade veja a discriminação como história, da mesma forma que a escravidão já é história", encerrou Graça.
Mais cedo, ao jornal O Estado de S. Paulo, disse que "a discriminação racial, ainda que seja de uma maneira velada, é uma realidade cotidiana". "Por um absurdo, é uma realidade que afeta 52% da população deste País. E a sociedade brasileira não pode permitir que esse problema seja esquecido."
Primeira-dama de um país que sofreu durante anos com o apartheid Graça preferiu não comentar se o Brasil, atualmente, seria mais racista do que a África do Sul, mas disse que as duas nações precisam questionar seus valores democráticos. "É preciso que se questionem sobre o que quer dizer uma representação democrática que reflita a composição de sua própria sociedade. A resposta não deve ser dada por mim, mas pelos brasileiros", afirmou.
ALCKMIN E HADDAD - O Troféu Raça Negra ainda homenageou nesta segunda outras 15 pessoas que contribuíram para a igualdade, entre eles o governador Geraldo Alckmin (PSDB), representado pelo vice Márcio França, e o prefeito Fernando Haddad (PT) - ambos por instituir programas de inclusão dos negros no ensino superior.