O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) e os curdos travaram neste sábado pela primeira vez combates no posto fronteiriço entre a Turquia e a cidade síria-curda de Kobane, que os sunitas radicais tentam capturar há três meses.
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"Na zona explodiram pela primeira vez confrontos após dois ataques jihadistas de madrugada no posto fronteiriço que separa a Turquia de Kobane", informou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Um jihadista cometeu um ataque com carro-bomba e outro detonou um cinturão de explosivos, afirma a ONG, que conta com uma rede de fontes médicas, militares e civis na Síria.
Então tiveram início os confrontos com as YPG, as unidades de proteção do povo curdo, uma milícia que defende a terceira cidade curda da Síria, da qual os jihadistas tentam se apoderar há mais de dois meses. Oficiais curdos e observadores de uma base de monitoração britânica afirmaram que os ataques do EI contra o posto de fronteiras foram lançados de território turco, o que foi negado por fontes turcas.
"O EI realizou ataques a 20 metros do posto fronteiriço (do lado sírio), ainda sob controle das YPG, e explodiram violentos combates", segundo um funcionário turco local. Desde a ofensiva lançada pelo EI no dia 16 de setembro, parte de Kobane encontra-se sob o controle dos jihadistas e algumas zonas estão em poder de combatentes curdos. Os curdos conseguiram frear a ofensiva e recuperar uma parte do terreno perdido graças aos ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos e aos reforços de combatentes curdos do Iraque.
Mas se os jihadistas conseguirem tomar o posto fronteiriço, situado ao norte de Kobane, os curdos ficariam sitiados. Segundo Damasco, os bombardeios contra o grupo EI não enfraqueceram os jihadistas. "O Daesh (acrônimo do EI em árabe) é mais fraco hoje depois de mais de dois meses de ataques da coalizão? Todos os indicadores demonstram que não", afirmou o ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Muallem.
Segundo ele, os ataques não terão nenhum impacto enquanto a Turquia, acusada pelo regime sírio de deixar os jihadistas passarem, não controlar sua fronteira. Se os Estados Unidos e os membros do Conselho de Segurança da ONU não fizerem um grande esforço para obrigar a Turquia a controlar sua fronteira (...), nem mesmo os bombardeios da coalizão conseguirão acabar com o Daesh", afirmou o ministro.
Os ataques aéreos da coalizão na Síria desde 23 de setembro mataram 963 pessoas, entre elas 838 jihadistas, 72 da Frente al-Nosra (braço da Al-Qaeda na Síria), 52 civis e um rebelde islamita, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. A declaração de Muallem foi dada em Moscou, onde abordou com o presidente Vladimir Putin a forma de reativar o diálogo entre o regime e a oposição.
Em uma entrevista à Al-Manar, rede do Hezbollah xiita libanês aliada de Damasco, Muallem avaliou positivamente a visita, dizendo que as duas partes estabeleceram um mecanismo para assentar as bases de um diálogo. "A Rússia quer um diálogo (...) interssírio sem ingerências externas", disse. "É o que queremos, mas a operação requer mais tempo (...) e que a oposição reavalie seus posicionamentos anteriores".
O ministro se referia à principal reivindicação da oposição desde o início da revolta, em março de 2011, ou seja, a deposição do presidente Bashar al-Assad, o que Damasco rejeita categoricamente. As negociações deste ano em Genebra fracassaram na busca por uma solução para a guerra, que já deixou 200.000 mortos.