Rajadas de tiros, policial executado, poças de sangue em frente à sede da revista satírica Charlie Hebdo: o atentado terrorista que deixou 12 mortos nesta quarta-feira em Paris fez a cidade recordar os tempos sombrios dos atentados dos anos 1980 e 1990.
Leia Também
- Hollande: ataque à revista é atentado terrorista de excepcional barbárie
- David Cameron considera ''revoltante'' ataque contra jornal francês
- EUA e UE condenam ataque terrorista contra revista francesa
- Merkel condena atentado contra revista francesa
- Quatro chargistas de renome mortos no ataque à revista francesa
- Obama condena o ataque terrorista contra revista francesa
Neste bairro do leste parisiense, isolado pela forças de segurança, as ambulâncias, caminhões de bombeiros e policiais invadiram as ruas.
Diversas pessoas em estado de choque são amparadas pelos bombeiros, uma outra, aparentemente inconsciente, é evacuada em uma maca.
Um jornalista que trabalha num local situado em frente à sede do Charlie Hebdo relembra ter visto "corpos no chão, poças de sangue e muitos feridos gravemente".
Por volta das 10h30 GMT (8h30 de Brasília), dois homens armados com fuzis AK-47 e um lança-foguete invadiram a redação da revista, num edifício empresarial na rua Nicolas-Appert, uma pequena viela do distrito 11 da capital francesa.
"Eu estava no prédio, no fim do corredor. Pessoas entraram, eles procuravam o Charlie Hebdo e atiraram para nos impressionar", relembrou à AFP uma funcionária dos correios que conseguiu escapar.
No escritório do jornal, foi um verdadeiro massacre. O atentado foi o mais sangrento da França nas últimas décadas.
Tiros, policiais correndo: Regina, que aguardava para ser atendida numa sala de espera de uma clínica oftalmológica, a cerca de 100 metros do jornal, garante que sabia "na mesma hora que era um atentado" e que "parecia que eu estava num novela".
"Vi dois caras saindo do prédio, atirando, entrando num carro C3 (Citroën) e partindo em direção ao boulevard Richard-Lenoir", contou calmamente uma testemunha que estava perto do local e que prefere preservar o anonimato.
Parecia filme
Em um vídeo gravado a alguns metros da sede do Charlie Hebdo, os dois homens armados com fuzis automáticos aparecem saindo de um veículo, executam com um tiro na cabeça um policial ferido no chão, antes de fugir de carro gritando "Vingamos o Profeta!".
"Eles estavam encapuzados, com fuzis AK-47 ou M16", descreveu um vizinho, que, num primeiro momento, admitiu achar que se tratava "de forças especiais perseguindo traficantes de drogas". "Parecia que estávamos vendo as gravações de um filme".
"Eu estava indo para minha aula, saí do metrô e ouvi tiros... uns três tiros", explicou Lilya Mohded, uma estudante de 24 anos. "Algumas pessoas gritaram: 'Estão atirando! Proteja-se!", lembrou a jovem, que "não pensou duas vezes, voltando logo para dentro da estação". Traumatizada, ela demorou uma hora para ter coragem de voltar à rua.
Bocar Diallo trabalha numa oficina mecânica próxima ao local do atentado e afirmou ter visto "policiais atirando, o que durou uns três ou quatro minutos".
"A gente queria sair para ver, mas ouvimos uma rajada de tiros e alguns policiais pediram para que voltássemos para dentro da oficina", explicou o mecânico, que ainda socorreu um policial ferido.
Dezenas de pessoas, penduradas nos celulares, passam pela proximidade do perímetro de segurança armado pelo polícia. "É uma loucura o que aconteceu, em pleno coração de Paris", lamenta uma delas.