PARIS - Dezenas de milhares de pessoas - muitas segurando placas onde se lê "Eu sou Charlie", em francês - foram as ruas numa grande manifestação em Nice, na Costa Mediterrânea da França, neste sábado. Marchas de suporte ao semanário Charlie - que foi alvo de ataque terrorista na quarta-feira - acontecem em várias cidades francesas. Uma grande marcha está prevista para amanhã, com a presença de líderes políticos de vários países. Doze pessoas morreram no ataque, inclusive o editor-chefe da publicação, que no passado publicou charges retratando o profeta Maomé, o que teria provocado a ira de radicais islâmicos.
O terror também deixou seu rastro de destruição em um supermercado de propriedade de um judeu, em Paris, onde um radical fez reféns. A ação terminou com o terrorista e quatro reféns mortos. A mulher do radical conseguiu fugir e está sendo procurada.
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SEGURANÇA
O plano de alerta antiterrorismo na região parisiense, elevado na quarta-feira passada, será mantido nas próximas semanas e será reforçado ainda mais, depois dos ataques dos últimos dias, afirmou neste sábado o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve.
"Dado o contexto, estamos expostos a riscos. É importante, portanto, que o plano Vigipirata (de alerta), que foi aumentado na região de Paris e que foi alvo de medidas particulares no resto do país, seja reforçado no curso das próximas semanas", afirmou o ministro ao final de uma reunião de crise no palácio presidencial.
Ele também confirmou que a França adotou todas as medidas necessárias para garantir a segurança nas manifestações pela liberdade de expressão previstas para este domingo.
"Foram adotadas todas as medidas para que esta manifestação possa acontecer em um clima de recolhimento, respeito e segurança. Todas as disposições estão adotadas para garantir esta segurança", enfatizou.
Os supostos autores do massacre no jornal satírico francês "Charlie Hebdo", o homem que fez reféns em um mercado de produtos judaicos em Paris e pessoas sequestradas nessa loja kasher morreram na sexta-feira em duas ações realizadas quase simultaneamente pelas forças de ordem.
Após várias horas de cerco, a unidade de elite da gendarmeria iniciou a invasão à gráfica situada em Dammartin-en-Goele, 40 km a nordeste de Paris, onde os irmãos Said e Chérif Kouachi buscaram refúgio.
Said e Chérif Kouachi, dois irmãos franceses de origem argelina de 32 e 34 anos, respectivamente, suspeitos da autoria da matança na sede do "Charlie Hebdo", na quarta-feira, que deixou 12 mortos, e de executar um policial em uma rua próxima, morreram abatidos a tiros pelas forças de ordem, quando saíram atirando da empresa, com seus fuzis Kalashnikov.
Quase ao mesmo tempo, morreu em outra ação das forças de segurança um homem, supostamente vinculado a estes jihadistas e que fez pelo menos cinco reféns em um mercado de produtos kasher, no leste de Paris.
Segundo o procurador de Paris, François Molins, o sequestrador matou os quatro reféns no início do ataque.
A tomada de reféns foi atribuída a Amédy Coulibaly, um criminoso reincidente de 32 anos, já condenado em um caso de extremismo islâmico e que conheceu Chérif Kouachi na prisão, onde os jihadistas se radicalizaram.
Em discurso à nação, o presidente François Hollande declarou, após o dramático desenlace da tomada de reféns, que a França soube "fazer frente" à situação, mas advertiu "que não acabaram as ameaças" ao país.
De fato, um dirigente religioso da rede Al-Qaeda na Península Arábica (Aqpa) ameaçou a França com novos atentados, em um vídeo divulgado nesta sexta-feira e captado pelo Centro americano de Vigilância na Internet (SITE).
"Não estarão em segurança, enquanto combaterem Alá, seus mensageiros e seus fiéis", disse ao povo francês Narit al Nadari, uma autoridade da Aqpa em matéria da sharia, a lei islâmica.
"Soldados que adoram Alá e seus mensageiros estão entre nós. Não temem a morte, buscar o martírio em nome de Alá", completou.
Desde o atentado contra o semanário "Charlie Hebdo", na quarta-feira, até o fim da tomada de reféns, nesta sexta, morreram em diferentes ataques na França 17 pessoas, além dos três atacantes, e pelo menos 20 pessoas ficaram feridas.