Oriente Médio

Al-Qaeda tenta conquistar espaço perdido ante o Estado Islâmico

Em 2014, a liderança da Al-Qaeda no jihadismo no Oriente Médio foi colocada em xeque diante da ascensão do Estado Islâmico no plano ideológico e militar

Da AFP
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Publicado em 15/01/2015 às 13:36
Foto: AL-FURQAN MEDIA / AFP
Em 2014, a liderança da Al-Qaeda no jihadismo no Oriente Médio foi colocada em xeque diante da ascensão do Estado Islâmico no plano ideológico e militar - FOTO: Foto: AL-FURQAN MEDIA / AFP
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Com a reivindicação do ataque contra a Charlie Hebdo em Paris, a Al-Qaeda pretende mostrar que ainda é capaz de atingir o Ocidente, e recuperar o terreno perdido na esfera de influência do jihadismo mundial frente a seu principal adversário, o grupo Estado Islâmico (EI).

"O ataque contra a Charlie Hebdo, reivindicado na quarta-feira pelo braço da Al-Qaeda no Iêmen, devolve ao grupo a rivalidade com o EI", afirma Laurent Bonnefoy, especialista do Iêmen.

Em 2014, a liderança da Al-Qaeda no jihadismo no Oriente Médio foi colocada em xeque diante da ascensão do EI no plano ideológico e militar, após a perda de influência na Síria da Frente al-Nosra, braço oficial do grupo de Bin Laden.

Após a morte deste último, em 2011, a Al-Qaeda seguiu forte no Iêmen, realizando ações espetaculares, com atentados contra as forças de segurança e alvos estrangeiros.

Ao fundir seus braços para criar a Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) e com Aylan al-Zawahiri como chefe supremo, a organização conseguiu resistir a Washington, apesar dos contínuos ataques com drones.

Em dezembro, por exemplo, as forças especiais americanas fracassaram no Iêmen em uma operação para libertar dois reféns, um americano e outro sul-africano, que finalmente foram executados.

Segundo os especialistas, a reivindicação do ataque de 7 de janeiro em Paris, que conquistou a atenção midiática de todo o planeta, ajuda a organização a voltar a mobilizar seus combatentes e a retomar a iniciativa em todos os campos, incluindo o da propaganda.

Propaganda através da ação

Desde a ascensão do grupo EI, "a Al-Qaeda tenta reagir com ações como as da década 2001-2011", explica Mathieu Guidère, professor de islamologia da Universidade de Toulouse (sul da França).

A da Charlie Hebdo "é uma operação de propaganda mediante o ato", que pode levar ao retorno de jihadistas que já haviam abandonado a rede, acredita Guidère, acrescentando que a Al-Qaeda pode se reforçar graças ao enfraquecimento do EI pelos ataques aéreos da coalizão internacional na Síria e no Iraque. "É o princípio dos vasos comunicantes", afirma.

Bonnefoy, por sua vez, acredita que "os meios que a AQPA possui são mais fracos que os do EI", mas a "Al-Qaeda continua sendo uma ameaça, sobretudo porque a rivalidade entre os dois grupos pode produzir uma forma de emulação".

Segundo outro especialista no Iêmen, April Longle, fundadora do International Crisis Group, "a aguda debilidade do Estado iemenita" desde a tomada da capital Sanaa em setembro por milícias xiitas "oferece novas oportunidades à AQPA".

A especialista explica que a vontade da Al-Qaeda de aparecer na linha de frente no combate às milícias xiitas permite à rede sunita promover um discurso "sectário e ganhar novos aliados" entre as tribos sunitas, "não em razão de sua ideologia, mas da luta contra o inimigo comum".

O ocorrido em Paris foi registrado "tendo como pano de fundo grandes manobras no movimento jihadista" internacional, confirma Jean-Pierre Filiu, professor na escola Sciente Po de Paris.

Em sua opinião, "o homem chave desta vasta conspiração" é Boubaker Al-Hakim, jihadista franco-tunisiano convertido desde 2004, quando combateu com a Al-Qaeda no Iraque, na "personalidade de referência" dos irmãos Kouachi, que "não puderam unir-se a ele naquele momento".

Os dois irmãos, autores do massacre na Charlie Hebdo, foram formados em 2011 no Iêmen pela AQPA, sob a direção espiritual do imã Anwar al-Aulaqi, abatido no mesmo ano por um drone americano.

"É lógico que este grupo tentará reivindicar o prestígio da ação", afirma Filiu. Mas Boubaker al-Hakim "se converteu em um comando chave do Estado Islâmico", que reivindicou em 2013 o assassinato dos opositores laicos tunisianos Chokri Belaid e Mohamed Brahmi.

"Acompanhamos uma aposta entre a AQPA 'histórica' e o Estado Islâmico", ao qual Amedy Coulibaly, o terceiro jihadista que matou 4 reféns judeus em um mercado kasher, "proclamou sua lealdade explícita e incondicional em um vídeo póstumo", afirmou Filiu, embora o EI não tenha reivindicado o ataque.

Segundo Rita Katz, fundadora do SITE, especializado na vigilância on-line do movimento jihadista, "a reivindicação marca o primeiro ataque oficial da AQPA no Ocidente com êxito, após várias tentativas frustradas".

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