Vencedor das eleições legislativas na Grécia, o partido de esquerda radical Syriza selou nesta segunda-feira (26) acordo com o partido Gregos Independentes para formar maioria e governar o país.
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Ao todo, a legenda conquistou neste domingo (25) 149 das 300 cadeiras do Parlamento, duas a menos para ter maioria e governar sozinho.
A aliança com os Gregos Independentes, uma legenda de direita nacionalista, dará mais 13 votos no Parlamento, o necessário para um governo de coalizão, que terá como primeiro-ministro Alexis Tsipras, líder do Syriza.
O acordo foi anunciado pelo líder dos Independentes, Panos Kommenos, após reunião com Tsipras na sede do Syriza, em Atenas.
Ao discursar no domingo após o resultado, Tsipras mandou um recado para a Europa: a troika, composta por Banco Central Europeu (BCE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Comissão Europeia, responsável pelo programa de recuperação dos países em crise baseado em medidas de austeridade fiscal), ficou no "passado".
"A população grega fez história e deixou para trás cinco anos de humilhação e sofrimento. Vamos recuperar nossa soberania, com nossas propostas de negociação", disse o líder de esquerda.
O resultado é um marco na história do país: um partido de esquerda radical assume o poder pela primeira vez em quase 200 anos de existência do Estado moderno grego.
Se a esquerda comemora, por outro lado as principais lideranças europeias assistem com apreensão à vitória de um partido que defende o perdão de 50% da dívida pública, hoje em torno de 320 bilhões de euros (175% do PIB), e uma moratória temporária do restante.
O seu programa promete mais benefícios sociais para os gregos, como energia de graça para 300 mil deles, moradias populares e extinção de impostos.
ROTA DE COLISÃO
"A eleição na Grécia vai aumentar a incerteza econômica em toda a Europa", declarou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, após a divulgação do resultado.
O Syriza entra em rota de colisão com as potências da União Europeia porque ameaça romper compromissos financeiros firmados pelo país dentro do bloco e impactar as contas públicas da já frágil economia grega.
O discurso de campanha foi em cima das medidas de austeridade fiscal negociadas e compromissadas pela Grécia para receber em troca, desde 2010, um socorro de 245 bilhões de euros do FMI e do BCE.
Para o Syriza, o ajuste fiscal, marcado por aumento de impostos e cortes de gastos em salários e cargos públicos, não melhorou a vida da população e levou a Grécia a uma dívida pública impagável.
O que ocorreu nas urnas da Grécia deve não só representar uma nova era nas suas relações dentro da União Europeia como estimular movimentos parecidos em lugares como a Espanha, onde cresce a atuação do Podemos, partido criado em 2014 sob diretrizes antiausteridade.
O líder da sigla espanhola, Pablo Iglesias, celebrou a vitória do Syriza. "Os gregos não têm mais um delegado de [Angela] Merkel", disse, referindo-se à chanceler alemã.
A permanência na zona do euro certamente será tema de discussão daqui para frente, embora o partido venha negando a intenção de abandonar a moeda única.
O premiê Antonis Samaras disse, ao reconhecer o resultado, que seu governo foi positivo e avisou aos que chegam: deixa o posto com a Grécia integrante da União Europeia e da zona do euro.
A Grécia, de fato, deu sinais de que saiu da recessão, pela primeira vez em seis anos, no fim de 2014. Mas apresenta, por exemplo, a maior taxa de desemprego da Europa --em torno de 25%, sendo de 60% entre os jovens. Sua economia encolheu 25% desde 2008.