O presidente cubano, Raúl Castro, exigiu nesta quarta-feira que os Estados Unidos suspendam o bloqueio contra Cuba para normalizar as relações, no primeiro encontro com seus colegas da Celac após o histórico anúncio da reaproximação entre os dois países.
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"O restabelecimento das relações diplomáticas é o início de um processo de normalização das relações bilaterais, mas esta não será possível enquanto existir o bloqueio", discursou Castro, na 3ª Cúpula da Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe (Celac), em Belén, 15 km a oeste da capital San José.
Embora a pobreza seja tema oficial da cúpula, Cuba centraliza a atenção internacional. Raúl Castro tem seu primeiro encontro com seus colegas latino-americanos desde o histórico anúncio de 17 de dezembro sobre a reconciliação entre Cuba e Estados Unidos, depois de meio século de hostilidades.
O cubano classificou o embargo como "o problema principal" que "não teve resultados" e que "deve acabar", lembrando outras demandas da ilha, como a retirada da lista norte-americana de patrocinadores do terrorismo, a devolução do território de Guantánamo e mudanças nas normas migratórias dos EUA.
Castro reconheceu o pedido, feito na semana passada pelo presidente Barack Obama, para que o Congresso suspenda o embargo vigente desde 1962, e pediu que ele use suas "amplas capacidades executivas para modificar substancialmente a aplicação do bloqueio".
Recentemente, Washington anunciou mudanças para flexibilizar as restrições a viagens de americanos a Cuba e o intercâmbio comercial, mas a maior parte das sanções pode ser suspensa apenas pelo Congresso.
Foco sobre Obama e Castro
Uma das 25 declarações especiais que sairão da Costa Rica condenará o embargo mantido pelos Estados Unidos contra Cuba desde 1962, como tem feito a Celac desde que foi criada.
"Basta do bloqueio criminoso a Cuba, que atenta contra toda a carta da OEA, atenta contra a Carta fundamental das Nações Unidas, atenta contra o Direito Internacional e contra todos os princípios que seus discursos dizem defender", declarou o presidente do Equador, Rafal Correa, que recebe a presidência do bloco nesta quinta-feira.
"Não tenho dúvida de que a Celac foi um catalisador desse processo. Foram necessários coragem e senso de responsabilidade histórica por parte dos presidentes Raúl Castro e Barack Obama para dar esse importante passo", destacou a presidente Dilma Rousseff.
"Isso que chamam de bloqueio é uma perseguição criminosa contra o povo de Cuba. Embora seja correto (dizer) que foi dado um passo fundamental pelo presidente Obama ainda falta muito caminho para andar", avaliou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Em seu discurso, Raúl Castro agradeceu o apoio da Celac contra o bloqueio e reiterou seu desejo de assistir à Cúpula das Américas, em 10 e 11 de abril.
Mais perto da China
Os mandatários debaterão o combate à pobreza, no momento em que o fraco crescimento econômico na América Latina - projetado pela Cepal para 2,2% neste ano - ameaça os avanços da última década. Dos 600 milhões de latino-americanos, cerca de 48% eram pobres em 2002 e, nos últimos dois anos, estagnou-se em 28%.
Para os governos da Costa Rica e do Equador, o caminho era se aproximar de países como a China, que registra taxas elevadas de crescimento econômico e disputa com os Estados Unidos sua influência na América Latina.
"Estou convencido de que a Celac deve continuar consolidando sua relação com outros blocos e países estratégicos", acrescentou o presidente costa-riquenho, Luis Guillermo Solís, em seu discurso.
Sob a presidência da Costa Rica - único país centro-americano que tem relações com a China -, a Celac se aproximou da União Europeia, mas sobretudo da China, que prometeu investir US$ 250 bilhões nos próximos dez anos na América Latina e no Caribe.
O apoio chinês foi principalmente na forma de empréstimos em condições favoráveis. Um dos grandes beneficiados é a Venezuela, angustiada com a queda dos preços do petróleo, com a escassez de produtos básicos e com uma inflação de 64%.
Dos 33 governantes do bloco, estarão ausentes somente os da Argentina, do México, do Paraguai e do Peru.