O Observatório Sírio de Direitos Humanos, ONG que monitora a guerra civil no país árabe, informou nesta sexta-feira (6) que um líder religioso do Estado Islâmico foi punido pela milícia por discordar do método da morte do piloto Muath al-Kaseasbeh.
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O jordaniano, que foi capturado em 24 de dezembro após o caça em que estava cair na Síria, foi queimado vivo dentro de uma gaiola de metal pelos militantes da facção. O vídeo da morte foi divulgado na internet na última terça (3).
Segundo a entidade, o clérigo, conhecido como Abu Musab al-Jazrawi, de nacionalidade saudita, fez a crítica em uma reunião mensal de líderes religiosos e militares do Estado Islâmico nos arredores de Aleppo, no norte da Síria.
Jazrawi teria dito no encontro que queimar vivo um inimigo é uma violação das tradições religiosas do islamismo e pediu que o responsável por matar o piloto fosse levado a julgamento. Como represália, ele foi removido de seu posto e será julgado pela milícia.
Em carta divulgada na internet, o Estado Islâmico disse que o Alcorão permite a execução de um infiel queimado. Aliados da milícia radical disseram que foi seguida a lei de Talião ("olho por olho, dente por dente"), já que as vítimas de bombardeios, como o realizado pelo piloto jordaniano, morre queimada.
A interpretação foi condenada por diversos líderes religiosos, argumentando que o assassinato queimado vivo não é autorizado de nenhuma forma pelo livro sagrado do islamismo.
AL QAEDA
Dentre os críticos, estão até clérigos ligados à rede terrorista Al Qaeda, de onde saíram os dirigentes do Estado Islâmico. Em entrevista à TV jordaniana, o líder religioso Abu Mohammed al-Maqdesi disse que o método usado é inaceitável.
Um dos principais inspiradores dos militantes da Al Qaeda, Maqdesi afirmou que a milícia radical não estava interessada na troca de presos e os criticou por querer criar um Estado islâmico dividindo os muçulmanos.
Para analistas, o novo método de assassinato usado pelo Estado Islâmico faz parte de seu esforços de propaganda para atrair a atenção dos Estados Unidos e de países da União Europeia.
"Quanto mais cruéis forem as execuções, mais atenção eles recebem", disse Brigitte Nacos, professora de ciência política da Universidade Columbia, em entrevista para a agência de notícias Associated Press.
"Cada resposta do presidente [Barack] Obama aos vídeos faz com que eles achem que são um poderoso ator político que atores políticos legítimos tenham que lidar."