CATOLICISMO

Papa cria 20 cardeais para a Igreja das periferias

Aos 20 novos purpurados, entre eles cinco latino-americanos provenientes de Panamá, México, Uruguai, Colômbia e Argentina, além de um espanhol, o papa instou a não aceitar "injustiças"

Da AFP
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Publicado em 14/02/2015 às 12:47
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Aos 20 novos purpurados, entre eles cinco latino-americanos provenientes de Panamá, México, Uruguai, Colômbia e Argentina, além de um espanhol, o papa instou a não aceitar "injustiças" - FOTO: Foto: AFP
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O papa Francisco criou neste sábado (14) 20 novos cardeais procedentes dos cinco continentes, muitos deles bastante envolvidos com questões sociais - confirmando o desejo do pontífice de criar uma Igreja menos eurocentrista.

"Que o povo de Deus veja sempre em nós a firme denúncia da injustiça e o serviço alegre da verdade", disse o papa aos novos cardeais, durante a cerimônia solene na basílica de São Pedro no Vaticano.

Aos 20 novos purpurados, entre eles cinco latino-americanos provenientes de Panamá, México, Uruguai, Colômbia e Argentina, além de um espanhol, o papa instou a não aceitar "injustiças".

Os novos "príncipes da Igreja" receberam o barrete vermelho, assim como o título e o anel cardinalício das mãos do papa argentino e na presença do papa emérito Bento XVI, que usava uma batina branca, prerrogativa dos pontífices.

Assim como ocorreu há um ano, durante a cerimônia de investidura dos primeiros purpurados do pontificado de seu sucessor, Bento XVI estava na primeira fila.

Apesar da solenidade do ato e do lugar, Francisco lembrou aos novos cardeais que "o cardinalato não é uma distinção honorífica" "nem um acessório" ou condecoração" mas "um ponto de apoio e um eixo para a vida da comunidade".

Em seu breve discurso, o papa traçou o perfil do purpurado de seu pontificado: um religioso que conhece "a magnanimidade", que "ama o que é grande, sem descuidar do que é pequeno", que conhece "a benevolência", que vive "na caridade" e "descentrado de si mesmo", explicou.

"Quem está centrado em si mesmo busca inevitavelmente seu próprio interesse e acredita que isso é normal, quase um dever", alertou Francisco, que os convidou a deixar de lado, acima de tudo, qualquer injustiça.  

"Nem mesmo a que poderia ser benéfica para ele ou para a Igreja", recalcou. 

"Tampouco as dignidades eclesiásticas estamos imunes à tentação da inveja e o orgulho", agregou.

Pela segunda vez desde que foi eleito pontífice, em março de 2013 Francisco decidiu premiar com o título cardinalício representantes de países pobres e subdesenvolvidos. São 18 nações, seis das quais nunca haviam contado com um cardeal: Cabo Verde, Tonga, Birmânia, Moçambique, Nova Zelândia e Panamá, com José Luis Lacunza, bispo de David, o primeiro da história do país.

 

Bispos humildes e simples - Quase todos os escolhidos são bispos humildes e simples, que dedicaram suas vidas aos migrantes, aos pobres, ou trabalhando em cidades assoladas pela violência, pobreza e conflitos. 

Dos quinze novos cardeais com direito a voto, apenas um trabalha na Cúria Romana (o prefeito da Assinatura Apostólica, tribunal para conflitos jurídicos), enquanto três vêm na Ásia, três da América Latina, dois da Oceania e mais dois da África.

A esses purpurados que trabalham em contato permanente com as pessoas, o papa argentino reconheceu que "não lhes faltam ocasiões para se enojarem", disse. 

"A caridade e somente ela, nos livra do perigo de reagir impulsivamente (...) do perigo mortal da ira acumulada", garantiu. 

Os 20 novos membros do Colégio Cardinalício representam também a diversidade da Igreja católica e deverão levar suas experiências ao Vaticano.

Os bispos de Tonga, Birmânia, Cabo Verde, Adis Abeba (Etiópia), Bangcoc (Tailândia), Hanói (Vietnã), da ilha italiana de Lampedusa , de Morélia (México) e David (Panamá), viram eixos da igreja "pobre e para os pobres", como quer o papa.  

O papa ignorou os bispos de grandes arquidioceses europeias como Veneza e Turim, que contam com cardeais por tradição, e escolheu prelados de regiões esquecidas, como o italiano Francesco Montenegro, de Agrigento, na Sicília, testemunha da dor dos centenas de migrantes que arriscam a vida no Mediterrâneo ao tentar entrar na Itália.

Dois dos latino-americanos correspondem ao perfil de purpurado para as periferias: o arcebispo panamenho José Luis Lacunza Maestrojuán, que trabalha com a proteção dos interesses dos povos indígenas, enquanto o mexicano Alberto Suárez Inda vive em um lugar marcado pela violência dos cartéis de droga.

A cerimônia, que durou cerca de duas horas, foi assistida por 160 purpurados e delegações de todo o mundo, entre elas do Panamá, presidida por Juan Carlos Varela, de Tonga, com seu rei, Tupu VI, e Espanha, com vários ministros.

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