A possibilidade de o acordo de Minsk se tornar efetivo diminuía, a poucas horas da entrada em vigor do cessar-fogo, programado para as 22h GMT deste sábado (14), depois que, ontem, o conflito deixou 28 mortos no leste do país.
Separatistas pró-Rússia e militares ucranianos continuaram se enfrentando nesta sexta-feira (13), e o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, reconheceu que o acordo "corre um grave risco".
Poroshenko acusou os rebeldes de "atacarem os acordos de Minsk" ao bombardearem a população civil do leste do país.
Kiev e os países ocidentais afirmam que o Kremlin incentiva os rebeldes do leste, com o fornecimento de armas e tropas, o que Moscou nega.
O texto do acordo Minsk 2, fechado após 16 horas de negociação entre os líderes da Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, projetou esperança, no momento em que o conflito se agrava, após 10 meses de hostilidades, que deixaram 5,5 mil mortos.
O cessar-fogo será a primeira prova do compromisso de Kiev e dos rebeldes com a assinatura do acordo. Com os separatistas lutando para conquistar o que puderem de território antes da entrada em vigor do documento, existe o temor de que a trégua não seja respeitada.
Reunião na ONU - O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir amanhã em sessão de emergência para reforçar o cessar-fogo, indicaram diplomatas.
Os Estados Unidos voltaram a acusar Moscou de continuar enviando armas pesadas ao leste da Ucrânia. "Estamos muito preocupados com a continuação dos combates (...) e com relatórios sobre tanques e sistemas de mísseis suplementares que chegaram nos últimos dias da Rússia", declarou a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.
Neste sentido, G7, Conselho Europeu e Comissão Europeia pediram o respeito aos acordos.
O adjunto da administração presidencial ucraniana, Valery Chaly, afirmou que, "se o cessar-fogo fracassar, a Ucrânia receberá ajuda militar do Ocidente".
No reduto separatista de Donetsk, o fogo de artilharia continuava, procedente, sobretudo, dos rebeldes. Mas combates eram travados em toda a linha de frente, e "drones rebeldes sobrevoaram a área de conflito", afirmou ontem o Exército ucraniano, destacando os confrontos em torno da cidade estratégica de Debaltseve, onde separatistas pró-Rússia afirmam terem cercado milhares de soldados ucranianos, o que Kiev nega.
Questões litigiosas - Analistas acreditam que os separatistas tentarão conquistar esta localidade, que conecta os redutos de Donetsk e Lugansk, antes da entrada em vigor do cessar-fogo.
A maioria dos especialistas acredita que o novo acordo de paz é insuficiente, uma vez que não prevê mecanismos concretos para resolver questões litigiosas. Não menciona, por exemplo, o controle da fronteira com a Rússia, da qual 400 quilômetros estão nas mãos dos rebeldes, e pela qual, segundo Kiev e o Ocidente, a Rússia infiltra armas e tropas.
O vice-ministro da Defesa ucraniano, Petro Mekhed, acusou os rebeldes de quererem "levantar sua bandeira" sobre o eixo ferroviário de Debaltseve, onde se concentram as ofensivas, e no porto estratégico de Mariupol. "A Ucrânia espera uma escalada, e está tomando todas as medidas necessárias para responder à mesma."
Um controle ucraniano? "Não acredito. Ficaremos aqui", afirmou ontem um líder separatista de Uspenka, um dos postos fronteiriços com a Rússia.