Conflito

Bombas dos EUA são incentivo para fazer a Jihad no Iraque e na Síria

Estíma-se em mais de 20.000 o número de voluntários estrangeiros procedentes de 90 países que chegaram à Síria para se unir ao EI

Do JC Online
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Publicado em 24/02/2015 às 12:53
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Estíma-se em mais de 20.000 o número de voluntários estrangeiros procedentes de 90 países que chegaram à Síria para se unir ao EI - FOTO: Foto: AFP
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Deveriam assustar e, no entanto, motivam: os bombardeios aéreos americanos contra o grupo Estado Islâmico (EI) são um incentivo para que homens e mulheres queiram, em todo o mundo e em número crescente, engrossar as fileiras do movimento jihadista.

"A tendência é clara e inquietante", ressaltou neste mês em Washington Nicholas Rasmussen, diretor do Centro de Luta contra o Terrorismo.

"Os combatentes que chegam à Síria o fazem em um número sem precedentes", disse.

Durante sua intervenção em uma comissão da Câmara de Representantes, Rasmussen estimou em mais de 20.000 o número de voluntários estrangeiros procedentes de 90 países que chegaram à Síria para se unir ao EI.

"Ao menos 3.400 procedem de países ocidentais, e entre eles 150 são americanos que já estão ou tentaram viajar para lá", declarou.

A campanha de bombardeios da coalizão liderada pelos Estados Unidos contra as bases do EI no Iraque e na Síria, que deteve o avanço das tropas jihadistas, mas também deixou muitas vítimas, não freou o fluxo de candidatos à jihad.

"Muito pelo contrário", afirma a partir de Beirute o especialista Romain Caillet, especialista em movimentos jihadistas.

"É um pouco como Obelix querendo acabar com os romanos", opina Caillet, que considera que há entusiasmo em combater os Estados Unidos, e que os extremistas esperam com muita ansiedade uma eventual operação terrestre.

"Estimando por baixo, este Estado tem centenas de milhares de simpatizantes no mundo árabe", explica.

"É o exemplo perfeito da jihad defensiva. Eles consideram que seu Estado está sendo atacado e que é seu dever defendê-lo. E o fato de ser bombardeado por aviões norte-americanos e por uma coalizão reforça sua narrativa de que se trata do combate do fim dos tempos. O perigo não os assusta, porque forma parte das regras do jogo. Alguns buscam o martírio; é só observar o número de atentados suicidas".

As centenas de vídeos de propaganda, com frequência profissionais, publicados on-line pelos especialistas do Daesh (acrônimo em árabe do Estado Islâmico) mostram imagens de edifícios derrubados, civis, sobretudo mulheres e crianças, feridos ou mortos, e acusam Washington de covardia, por lançar bombas a partir do ar em vez de enviar soldados ao terreno.

Falta de antecipação

Para Jean-Pierre Filiu, professor do prestigiado instituto Sciences Po de Paris, "desde o 11 de setembro (de 2001) os Estados Unidos entendem a luta antiterrorista em termos de reservas, e não de fluxo. Comemoraram a eliminação de mil terroristas desde o início da campanha de bombardeios, mas não previram o aumento impressionante do recrutamento suscitado pela perspectiva de ir combater os que a propaganda jihadista chama de 'os cruzados'".

No mundo árabe e muçulmano, o antiamericanismo está muito difundido, e o fato de lutar contra o exército americano gera prestígio ao combatente.

"Fala-se em estender os bombardeios americanos contra o EI ao Egito e à Líbia", lembra Romain Caillet. "Se isso ocorrer, provocará um fluxo suplementar de novos jihadistas. Na região, se quiserem desacreditar politicamente alguém, basta dar a essa pessoa o apoio dos Estados Unidos", conclui.

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