Um ano após um comando pró-russo ocupar o Parlamento da Crimeia, primeiro passo antes de sua incorporação a Moscou, a antiga península ucraniana segue apoiando as autoridades russas, apesar de sua economia abalada, da escassez e de uma inflação galopante.
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"Estou muito feliz por termos nos unido à Rússia, era nosso sonho há muito tempo", exclama Galina Tolmacheva, enfermeira. Há descontentamentos devido à queda dos salários por culpa da inflação, mas "o principal é que não exista guerra", disse.
Um comando pró-russo invadiu no dia 27 de fevereiro de 2014 o Parlamento da Crimeia, uma península que, antes de ser ucraniana, havia pertencido à Rússia até 1954, e forçou os deputados a votar a favor de um governo favorável a Moscou para a organização de um referendo sobre sua anexação à Rússia. Esta votação, em março de 2014, provocou fortes tensões com Kiev e também com os países ocidentais, que impuseram à Rússia sanções sem precedentes.
Estas sanções também se aplicam na Crimeia - agora russa - e a isolam economicamente, o que provocou a retirada de quase todas as empresas ocidentais que estavam instaladas ali.
Para compensar, Moscou prometeu investir bilhões de rublos na região e tentar favorecer sua abertura, construindo uma ponte que a unirá a sua nova pátria mãe.
Mas um ano depois do referendo os habitantes da península continuam isolados e sofrem cortes de eletricidade e água, serviços que até agora eram fornecidos por Kiev.
Desastre total
Com a escassez de bens de primeira necessidade e de medicamentos como a insulina, sem esquecer a inflação que quase dobrou o preço dos alimentos, a vida na Crimeia é "diferente da vida normal de uma pessoa comum", afirma o governador da península, Serguei Axionov, em uma entrevista à televisão russa.
O salário de um habitante da península raramente passa dos 10.000 rublos (142 euros), como é o caso dos músicos da Orquestra Filarmônica da Crimeia, conta seu antigo diretor, Igor Kazdan.
"É um desastre total, parece que a Rússia ainda não tomou o controle", afirma o diretor da Orquestra.
As autoridades locais estimam que as dificuldades econômicas da península são temporárias. Um otimismo que parece ser compartilhado com a população, 82% da qual segue apoiando a adesão da Crimeia à Rússia, segundo uma pesquisa publicada em fevereiro pelo instituto Gfk.
Estado policial
Mas outros preferiram deixar a Crimeia, como Alexandre Titov, de 22 anos, que desde outubro trabalha como programador de informática na Dinamarca.
"Não tinha vontade de viver em uma Crimeia russa", conta. No referendo, ele votou contra o "roubo" da península por parte da Rússia, um "estado policial".
Alexandre Titov forma parte dos poucos que votaram "não" em um referendo no qual 97% dos participantes escolheram o "sim", segundo o Kremlin, um resultado que não foi reconhecido por Kiev nem pelos países ocidentais.
Desde que no dia 18 de março de 2014 o presidente russo, Vladimir Putin, assinou o tratado de adesão, "reina uma atmosfera de medo na Crimeia", segundo Andrei Krisko, militante local pelos direitos humanos.
Quase todo dia Krisko recebe telefonemas denunciando prisões, incursões policiais, expulsões da Crimeia. Segundo ele, alguns habitantes são detidos por extremismo simplesmente por terem expressado seus sentimentos pró-Ucrânia.