A perseguição aos dissidentes do regime do presidente venezuelano Nicolás Maduro continuará, considera o líder opositor detido Leopoldo López, recordando a recente detenção do prefeito de Caracas, em uma entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal espanhol El País.
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"A perseguição e a criminalização da dissidência política vão continuar", afirma López, de 43 anos, coordenador nacional do Voluntad Popular, ala radical da oposição Mesa de la Unidad Democrática, detido na prisão militar de Ramo Verde depois de se entregar voluntariamente em 18 de fevereiro de 2014.
"Ao menos estes são os sinais claros enviados pelo governo com a detenção de (Antonio) Ledezma", o prefeito opositor de Caracas.
Economista licenciado em Harvard, López é acusado de incitar a violência nos grandes protestos do início de 2014 contra o governo de Maduro, que deixaram 43 mortos. Está sendo julgado em Caracas.
"Vivi na própria pele a injustiça de juízes e promotores corrompidos, a dilação da justiça processual, as condições dos presos", afirma o líder opositor em resposta a um questionário que o jornal de centro-esquerda espanhol fez chegar à prisão.
López escreveu a mão as páginas com a assinatura "Leopoldo López/Preso político, preso de consciência" e a frase "Todos os direitos para todos os venezuelanos". Na entrevista, o opositor denuncia suas condições de reclusão.
"É uma experiência dura e carregada de injustiças e violações dos direitos elementares", afirma, dizendo ter "passado a maior parte do último ano preso na cela, ou seja, preso inclusive dentro da prisão".
"As conversas com minha defesa são gravadas. Leem e confiscam minha correspondência de maneira arbitrária, fomos vítimas de buscas violentas por parte de comandos de inteligência militar, lançaram excremento humano dentro de nossas celas e a todo momento somos gravados direta ou clandestinamente", explica.
Quanto à divisão no seio da oposição ao governo de Maduro, afirma: "Não pode haver fraturas que nos enfraqueçam. Pedimos unidade no protesto e unidade no eleitorado, unidade nas ruas e unidade no voto".
Na véspera, o prefeito Ledezma, preso desde fevereiro e acusado de conspiração contra o governo federal, denunciou o executivo intolerante e repressivo da Venezuela em uma carta entregue nesta quinta-feira por sua esposa ao ex-chefe de governo espanhol José María Aznar.
Mitzy Capriles, a esposa de Ledezma, também participou de um encontro com políticos espanhóis, onde denunciou a violação sistemática dos direitos humanos na Venezuela.
"Escrevi esta carta na cela em que me encontro prisioneiro de um governo intolerante e repressivo", afirmou Ledezma, 59 anos, detido em uma prisão militar desde que, em 19 de fevereiro, foi tirado de seu gabinete por um comando de assalto do serviço de inteligência venezuelano sob acusação de conspirar contra o governo de Nicolás Maduro.
Denunciando seu "sequestro", Ledezma transmitiu a Aznar, que governou a Espanha de 1990 a 2004, uma "palavra de agradecimento em nome de todo o povo democrático da Venezuela, por sua solidariedade firme e consequente, em todo este processo cheio de dificuldades".
"As forças políticas e civis, agrupadas na Unidade, continuaremos encarando os despropósitos deste regime que afunda nossa economia e encurrala todos os setores sociais em uma crise espantosa e múltipla", assegura.
Mitzy Capriles, por sua vez, realiza nesta semana uma intensa campanha na cidade francesa de Estrasburgo, sede do Parlamento Europeu, e em Madri, para denunciar a prisão arbitrária de seu marido.
"O fato de ser dissidente ou opositor em nosso país significa ir para a cadeia", afirmou Capriles em uma reunião com políticos em Madri, onde recebeu o apoio de partidos de direita e de esquerda.
Com Ledezma e Leopoldo López, já estão presos dois dos principais líderes opositores radicais de Maduro, que denunciou em dois anos de governo mais de uma dúzia de planos de assassinato contra ele e golpes de Estado. "Há uma sistemática violação dos direitos humanos contra o venezuelano cujo maior pecado é ser da oposição ao governo", enfatizou Capriles.
A Eurocâmara, por sua vez, expressou novamente na quinta-feira sua "profunda preocupação" com a situação política na Venezuela e pediu ao governo de Nicolás Maduro que liberte os opositores detidos e todos os manifestantes pacíficos.
Esta é a nona resolução sobre a Venezuela votada na Eurocâmara desde 2007.
Depois de 15 anos de um governo que se define como socialista, a Venezuela atravessa uma crise marcada pela maior inflação do mundo, um déficit fiscal desenfreado, uma cotação do dólar paralelo que supera trinta vezes a cotação mais baixa das três taxas oficiais e uma preocupante carência de alimentos, medicamentos e produtos de higiene.
Maduro enfrenta eleições legislativas cruciais este ano, com uma popularidade ronda apenas os 20%.