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Chavistas confirmam conspiração denunciada por Nisman, diz revista

A morte de Nisman, tratada inicialmente como suicídio, está sob investigação, mas sua denúncia foi recusada por um juiz argentino

Da Folhapress
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Publicado em 14/03/2015 às 16:38
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A morte de Nisman, tratada inicialmente como suicídio, está sob investigação, mas sua denúncia foi recusada por um juiz argentino - FOTO: Foto: AFP
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Três ex-integrantes da alta cúpula chavista afirmaram em reportagem publicada neste sábado (13) na revista "Veja" que a Venezuela intermediou as negociações entre o Irã e a presidente argentina, Cristina Kirchner, para troca de segredos nucleares e o acobertamento do envolvimento iraniano no caso Amia.

O caso está no centro do mais recente escândalo político argentino com a morte do promotor Alberto Nisman, que apresentou à Justiça uma denúncia contra Cristina justamente por esconder a participação do Irã no atentado terrorista que deixou em 85 mortos em 1994. A morte de Nisman, tratada inicialmente como suicídio, está sob investigação, mas sua denúncia foi recusada por um juiz argentino.

Segundo os dissidentes ouvidos pela revista, o Irã usou o intermédio venezuelano para enviar dinheiro para a campanha de Cristina em 2007. Os valores incluiriam os US$ 800 mil em uma mala apreendida naquele ano com o empresário venezuelano Guido Antonini Wilson e que, segundo investigação à época, seria de Hugo Chávez para a campanha da argentina.

A "Veja" não revela a identidade dos dissidentes, mas diz que eles participaram de um encontro entre Chávez e o então presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, no qual ele teria pedido pessoalmente ao venezuelano que intercedesse perante o governo argentino para obter tecnologia nuclear para o país e tirar dos registros da Interpol os iranianos suspeitos do ataque a Amia.

O encontro, ainda segundo a revista, ocorreu no Palácio Miraflores, sede da Presidência venezuelana. Os dissidentes chegam a relatar o diálogo entre os presidentes. Ahmadinejad teria dito que aquele "é um assunto de vida ou morte", que a Argentina o ajude com o programa nuclear iraniano. Chávez teria respondido: "Muito rapidamente. Farei isso, companheiro".

A conversa teria seguido então para as investigações do caso Amia, quando Ahmadinejad pede, segundo a revista, para que Chávez faça a Argentina desistir de capturar os iranianos suspeitos. "Eu me encarregarei pessoalmente disto", teria respondido o venezuelano.

Em troca, segundo a revista, os argentinos levavam grandes quantias em dólar em espécie.

Os dissidentes relatam que o governo Chávez mantinha vários negócios ilegais com o Irã, que incluíam envio de cocaína, documentos e equipamentos em um Airbus que fez a rota entre Caracas, Damasco e Teerã de março de 2007 a setembro de 2010, sob a supervisão do então ministro do Interior venezuelano, Tareck El Aissami, atual governador de Aragua.

As negociações eram acompanhadas de perto também pela então ministra da Defesa argentina, Nilda Garré. Os dissidentes dizem à revista que ela manteve uma "relação íntima" com Chávez quando foi embaixadora argentina em Caracas.

"Não posso afirmar que o governo da Argentina entregou segredos nucleares, mas sei que recebeu muito por meios legais (títulos de dívidas) e ilegais (malas de dinheiro) em troca de algo muito valioso para os iranianos", diz um dos dissidentes, ressaltando semelhanças entre os reatores nucleares de Arak, no Irã, e de Atucha, na Argentina.

Os venezuelanos citados pela revista fazem parte do grupo de 12 ex-membros da alta cúpula chavista que romperam relações com o governo do sucessor Nicolás Maduro e se exilaram nos EUA, onde colaboram com as investigações sobre narcotráfico e terrorismo.

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