A ofensiva do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, para reparar o desgaste com os Estados Unidos foi lançada, mas a reação dos americanos sugere que eles esperam mais do vencedor das legislativas israelenses para esquecer sua rejeição à criação de um Estado palestino.
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A intenção declarada da administração Obama de rever o apoio a Israel na ONU poderia ser, em primeiro lugar, uma forma de influenciar a coalizão a ser formada por Netanyahu, de acordo com especialistas.
É quase certo que o primeiro-ministro será nomeado para formar o próximo governo após as eleições legislativas de terça-feira.
Mas a relação entre os dois aliados não deve ser profundamente afetada, para além das grandes discordâncias do momento e da inimizade óbvia entre Obama e Netanyahu, acrescentam os analistas.
E a aliança deve continuar mesmo se o governo dos Estados Unidos permitir, contra a vontade israelense, a adoção pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução sobre o conflito israelo-palestiniano e a criação de um Estado palestino independente.
Passado o momento de euforia em seu terreno, Netanyahu enfrenta as consequências no exterior das declarações feitas durante a campanha.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu-lhe nesta sexta-feira para confirmar seu compromisso com um Estado palestino.
Por sua vez, o presidente francês François Hollande, que telefonou a Netanyahu para "parabenizá-lo", ressaltou a necessidade de uma "solução de dois Estados" e lembrou a proposta francesa de "mediar" o conflito.
"Eu não mudei"
Segunda-feira, véspera de uma votação muito incerta e para unir a direita, Netanyahu enterrou publicamente a ideia de um Estado palestino caso mantivesse seu posto.
A administração Obama reagiu dizendo que não teria outra escolha a não ser reavaliar sua posição na ONU. Os Estados Unidos são o apoio mais firme de Israel no Conselho de Segurança, onde bloquearam seguidas resoluções desfavoráveis ao seu aliado.
Enquanto inicia as manobras para a formação de seu governo, Netanyahu passou muito tempo na televisão americana na quinta-feira para tentar reparar os danos.
"Eu não mudei de política", declarou à MSNBC. "Eu nunca me retratei" do discurso de 2009, no qual endossou pela primeira vez a ideia de um Estado palestino coexistindo com Israel.
"Eu não quero uma solução de um Estado. Eu quero uma solução de dois Estados, pacífica e durável. Mas para isso as condições precisam mudar", insistiu.
Neste sentido, os Estados Unidos deixaram claro que não acreditam nas novas declarações do premiê. "Há três dias (segunda-feira), ele era primeiro-ministro e certamente não podemos esquecer as suas palavras", indicou o Departamento de Estado.
Obama demorou até quinta-feira para telefonar a Netanyahu para felicitá-lo. A Casa Branca empregou palavras duras para qualificar as declarações de Netanyahu sobre o voto árabe no dia das eleições.
Muitos especialistas, no entanto, incitam cautela quanto à gravidade do momento. Mesmo que o governo dos Estados Unidos permita uma resolução na ONU, acompanharia de perto o seu conteúdo.
"Antes de tirar conclusões precipitadas sobre o sentimento da Casa Branca", o diplomata Dennis Ross prefere esperar para ver o governo de coalizão a ser formado por Netanyahu.
Sinais de alerta
"Nós sabemos quem será primeiro-ministro. A questão é qual será o governo e quais serão as suas diretrizes", disse à Rádio Israel Ross, que foi um dos principais assessores do presidente Barack Obama sobre o Oriente Médio.
Robbie Sabel, um ex-membro da delegação israelense na ONU, e Jonathan Rynhold, autor de um livro sobre as relações entre os Estados Unidos e Israel, não tem "nenhuma dúvida" sobre o fato de que a administração Obama tenta influenciar a coalizão de Netanyahu.
"Os sinais de alerta da Casa Branca (...) foram dados", declarou Sabel à AFP, referindo-se à ofensiva de Netanyahu nos meios de comunicação americanos. "Ninguém sabe melhor do que Netanyahu como essa relação é importante", ressaltou.
Se Netanyahu formar um governo muito para a direita, se não amenizar seu discurso sobre o Estado palestino e não congelar a colonização, "teremos um governo que, certamente, não tomará medidas ativas contra Israel, mas que também não ajudará como o faz normalmente", considera Rynhold.