A Síria acolheria favoravelmente uma ampla presença militar russa em seus portos, afirmou seu presidente, Bashar al-Assad, em uma entrevista com oito meios de comunicação russos publicada nesta sexta-feira pela agência oficial síria Sana.
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"Saudamos qualquer aumento da presença russa no Mediterrâneo oriental e sobretudo na costa e nos portos sírios", disse.
A Rússia dispõe de uma base militar no porto de Tartús (220 km a noroeste de Damasco). Criada por um acordo soviético-sírio de 1971, a base serve atualmente como ponto de abastecimento técnico da marinha russa, segundo Moscou, que mantém presença naval no Mediterrâneo desde o início da guerra na Síria, há quatro anos.
"A presença russa em várias regiões do mundo, no Mediterrâneo oriental e no porto de Tartús, em particular, é necessária para restabelecer um equilíbrio que o mundo perdeu após o desmantelamento da União Soviética", ressaltou.
"Para nós, quanto mais importante esta presença for, melhor para a estabilidade da região", acrescentou Assad.
O presidente da Comissão de Defesa do Conselho da Federação, o Senado russo, Viktor Ozerov, afirmou que a Rússia se contentaria neste momento com o porto de Tartus, mas que não iria construir uma "base militar" para evitar a escalada do conflito na Síria.
"Na situação atual, isso forçaria algumas forças, incluindo as de oposição, a uma escalada de tensões", disse Ozerov, citado pela agência de notícias Interfax. "Mas, em tempos de paz, nós, obviamente, vamos considerar as perspectivas de uma cooperação militar e técnica, incluindo a construção de uma base militar real", acrescentou o parlamentar russo.
Moscou e Damasco fecharam em meados dos anos 1950 acordos de cooperação militar e econômica. Na década de 1980 havia mais de 6.000 conselheiros militares soviéticos no país, e várias bases de mísseis.
Após a incerteza gerada pela queda do império soviético, as relações entre os dois aliados voltaram a se reafirmar com a chegada ao poder do atual presidente russo, Vladimir Putin.
Assad indicou que o apoio militar russo "continuou" durante os últimos quatro anos, enquanto uma guerra civil assola a Síria. E, no plano político, Moscou deve receber entre os dias 6 e 9 de abril uma segunda rodada de negociações entre representantes do poder e da oposição, a fim de alcançar uma solução política para o conflito na Síria.
O papel da Rússia se limita a "facilitar o diálogo, e não impor ideias", ressaltou o presidente sírio. Mas a coalizão de oposição, apoiada pelo Ocidente e a Turquia, anunciou sua recusa em participar, uma decisão que Assad imputou à pressão externa sobre a oposição.
"Encontrar uma solução para a crise síria não é impossível se o povo sírio sentar e conversar", disse Assad, criticando os países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, acusando-os de "recusar uma solução política" na Síria.
"Para eles, a solução política significa uma mudança ou a queda do Estado e sua substituição por um Estado que lhes convém", denunciou.
Nesta entrevista, Assad também ressaltou sua intenção de estreitar as relações com o Egito. "Esperamos ver uma reaproximação sírio-egípcia, por causa da importância dessas relações para o mundo árabe", disse ele, ressaltando que não houve uma "relação real" entre os dois país no momento.