Política

Eleição de ex-general golpista marca a primeira transição democrática na Nigéria

PDP estava no poder desde 1999, ano da restauração da democracia na Nigéria, após um longo período de ditaduras militares

Da AFP
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Publicado em 01/04/2015 às 11:21
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Atualizada às 12h06

O ex-general golpista Muhammadu Buhari venceu com grande margem a eleição presidencial da Nigéria, ao derrotar o atual presidente Goodluck Jonathan, na primeira alternância democrática na agitada história política do país desde sua independência.

"Nosso país se uniu à comunidade de nações que substituem o presidente por meio de uma eleição livre e honesta", declarou Buhari em seu primeiro discurso depois de ser eleito.

"Para mim isto é algo realmente histórico", completou o ex-general, que recebeu 53,95% dos votos. Buhari afirmou nesta quarta-feira que o grupo islamita Boko Haram será atacado até a derrota, depois de seis anos de influência crescente da organização no nordeste do país.

"Eu asseguro que o Boko Haram em breve perceberá a força de nossa vontade coletiva e de nosso compromisso para livrar esta nação do terror e trazer de volta a paz". "Não vamos poupar esforços até derrotar o terrorismo", disse.

Buhari, candidato da coalizão opositora APC (Congresso Progressista), derrotou o atual presidente Goodluck Jonathan, candidato do Partido Democrático Popular (PDP), que recebeu 44,96% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral Independente.

O PDP estava no poder desde 1999, ano da restauração da democracia na Nigéria, após um longo período de ditaduras militares.

Desde a independência do país em 1960, a Nigéria registrou seis golpes miliares. Buhari, 72 anos, um muçulmano do norte da Nigéria, que comandou uma junta militar entre 1983 e 1985, afirmou durante a campanha eleitoral que se converteu à democracia. Esta foi a quarta candidatura presidencial de Buhari desde 2003.

Na terceira tentativa, em 2011, ele foi derrotado por Goodluck Jonathan, um cristão dos sul da Nigéria. "Prometi eleições livres e justas. Cumpri com minha palavra", afirmou Jonathan. "Nenhuma ambição pessoal justifica o derramamento de sangue dos nigerianos", completou, para evitar qualquer violência.

Em 2011, os incidentes posteriores à vitória de Jonathan deixaram quase mil mortos. Buhari elogiou a fidalguia do atual presidente, que ligou para reconhecer a derrota. "Deixem-me dizer claramente: o presidente Jonathan não tem nada a temer de mim. Ele é um grande nigeriano e ainda é nosso presidente". 

"A democracia e o Estado de direito serão estabelecidos no país. Deixemos o passado para trás, especialmente o passado recente. Devemos esquecer nossas velhas batalhas e os conflitos para seguir adiante", completou. 

Milhares de nigerianos celebraram nas ruas de Kano, a maior cidade do norte muçulmano, a vitória de Buhari, que recebeu mais de dois milhões de votos no estado, contra contra 200.000 do rival. A comunidade internacional felicitou o vencedor.

O presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, disse que o resultado mostra a maturidade da democracia, não apenas na Nigéria, mas também no conjunto do continente africano.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, felicitou o presidente eleito e classificou sua vitória como "uma prova da maturidade da democracia na Nigéria".

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também elogiou o vitorioso e o país africano por ter "respeitado os princípios democráticos".

O presidente Goodluck Jonathan "colocou os interesses de seu país em primeiro lugar ao reconhecer a derrota e felicitar o presidente eleito Buhari por sua vitória", destacou Obama em um comunicado da Casa Branca.

A eleição no país de maior população da África - 173 milhões de habitantes - é um importante símbolo para todo o continente, onde a questão da alternância pacífica e democrática aparece de forma recorrente, sobretudo nos países governados por presidentes vitalícios ou dinastias familiares.

Em Burkina Faso o presidente Blaise Compaoré, que estava há 27 anos no poder, foi derrubado por manifestações.

Em vários países como Burundi, Ruanda, Benin, Congo e República Democrática do Congo, os chefes de Estado são suspeitos de querer permanecer no poder, recorrendo em alguns casos a modificações da Constituição por interesse pessoal.

A Nigéria foi cenário há alguns anos de divisões políticas que estimularam as tensões étnicas e religiosas, o que provocou violentos protestos. Desta vez, a eleição aconteceu com total tranquilidade e o grupo islamita Boko Haram não conseguiu prejudicar a votação como havia prometido.

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