Jihadistas

No Líbano, um campo de palestinos é transformado em refúgio de jihadistas

Os habitantes aconselham os jornalistas a evitar este bairro, onde nem mesmo os grupos palestinos armados se aventuram

Da AFP
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Publicado em 06/04/2015 às 18:27
Foto: ALI AL-SAADI / AFP
Os habitantes aconselham os jornalistas a evitar este bairro, onde nem mesmo os grupos palestinos armados se aventuram - FOTO: Foto: ALI AL-SAADI / AFP
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A foto de Abu Bakr al-Bagdadi, líder do grupo Estado Islâmico (EI), está colada junto a de Osama Bin Laden, fundador da Al-Qaeda, em um bar do maior campo de refugiados palestinos do Líbano, transformado em uma zona de trânsito dos jihadistas que lutam na vizinha Síria.

Na entrada do bairro de Tawaré, reduto dos islamitas radicais no campo de Ain Helué, no sul do país, uma bandeira do EI foi hasteada.

Os habitantes aconselham os jornalistas a evitar este bairro, onde nem mesmo os grupos palestinos armados se aventuram.

Abu Hajer, um jihadista palestino de vinte anos, explica à AFP via Skype suas idas e vindas do campo para a frente de batalha na Síria, onde combate o regime do presidente Bashar Al-Assad nas fileira da Frente al-Nosra, ramo sírio da Al-Qaeda.

"Na primeira vez, permaneci três meses na Síria", explica. "Depois retornei a Ain Helué por causa de uma ferida no braço esquerdo", explica.

"Vou e venho todo o tempo", acrescenta, indicando que sonha em se tornar um "mártir".

Procurado pelas autoridades libanesas, Hajer afirma utilizar documentos de identidade falsos e ir trocando a aparência física, raspando a barba ou usando um boné.

 

'Direito à jihad'

Ain Helué é o maior dos 12 campos de refugiados palestinos no Líbano, com 1 km2. Trata-se de um labirinto miserável de ruas estreitas e fedorentas, onde vivem 55.000 habitantes, segundo a ONU, às quais se somaram 6.000 palestinos fugidos da Síria nos últimos anos.

O exército não entra no campo em razão de um antigo acordo tácito.

O campo sempre foi terreno fértil para o radicalismo. Com o conflito sírio, os serviços de segurança libaneses detectaram ao menos 46 jovens que deixaram o campo com destino a Síria, além daqueles que vão e vem.

"Não há uma presença oficial da Frente al-Nosra nem do EI no campo", afirma Jamal Hamad, um islamista radical entrevistado pela AFP no bairro de Safsafé, contíguo a Tawaré. "Mas alguns nutrem simpatia pela Al-Norsa, outros pelo EI".

Hamad é um líder da "Juventude Muçulmana", que ele define como um "mosaico de jovens jihadistas" nascido com o conflito sírio.

Segundo uma autoridade dos serviços de segurança libaneses, esta formação reúne islamitas radicais, criminosos e pessoas procuradas pela justiça por atentados no Líbano.

Hamad defende o "direito à jihad na Síria", apesar de não reconhecer abertamente a participação de membros da "Juventude Muçulmana" na guerra neste país.

"Por que os xiitas têm direito de lutar e não os sunitas?", questiona em referência ao Hezbollah xiita libanês, que apoia o regime sírio.

 

'Uma geração inconsciente'

Interrogado pela AFP, o responsável pela segurança do Fatah palestino no Líbano, o general Sobhi Abu Arab, considera que o fenômeno afeta apenas "uma minoria". "Alguns retornam pouco convencidos ou decepcionados" da Síria.

Munir Maqda, chefe das forças de segurança palestina no Líbano, assegura que "aqueles que viajam à Síria não têm mais do que 17 anos". "É uma geração inconsciente", disse à AFP.

Confinados em uma ilhota de miséria, os jovens palestinos mal têm opções no Líbano, onde são proibidos de exercer inúmeras profissões.

Nos acessos do campo, o exército libanês inspeciona carros e os soldados as mulheres que portam o niqab, o véu islâmico.

A ascensão da influência jihadista preocupa os habitantes do campo, que já são marginalizados.

"Vivemos em tempos de grande tensão, e nós nem temos o suficiente para comer", lamenta Fadi em sua tenda. "Eles vão para a Síria para ganhar dinheiro", diz Rafe, de 23 anos.

Esses refugiados também temem combates semelhante aos de 2007 que fizeram centenas de mortos e destruíram o campo de Nahr al Bared (norte do Líbano), onde o exército e uma facção islâmica entraram em confronto.

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