O Guia Supremo do Irã, Ali Khamenei, advertiu nesta quinta-feira que o acordo preliminar concluído entre Teerã e as grandes potências em Lausanne (Suíça) sobre o programa nuclear de seu país não garante a assinatura de um compromisso definitivo até o fim de junho.
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O aiatolá Khamenei, que tem a última palavra sobre as questões estratégicas do país, expressou-se pela primeira vez sobre o acordo-quadro concluído em 2 de abril sobre os "parâmetros-chave" de um acordo global com o grupo 5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha).
A República Islâmica e o grupo 5+1 concordaram em trabalhar até 30 de junho para tentar acertar os detalhes técnicos e jurídicos complexos do tema a fim de concluir um acordo definitivo que acabaria com 12 anos de crise diplomática internacional.
O anúncio do acordo preliminar havia despertado entusiasmo entre a população iraniana, que esperava uma retirada rápida das sanções econômicas que estrangulam a economia do país.
Mas o aiatolá Khamenei tem se mantido prudente quanto as chances de um acordo final, considerando que o texto de Lausanne não garante uma solução definitiva para a crise.
"O que foi feito até o momento não garante o acordo em si, nem seu conteúdo, nem sequer que as negociações cheguem até o final", afirmou Khamenei.
"Tudo foi detalhado. Pode ser que a outra parte, o que é injusto, queira limitar o nosso país nos detalhes", disse ele, reiterando que seu país não estava tentando construir armas nucleares como denuncia o Ocidente e Israel.
Após uma semana de intensas conversações, o Irã e as grandes potências anunciaram um "passo decisivo" para uma solução definitiva e detalharam em um texto conjunto os pontos-chave da negociação, tais como enriquecimento de urânio, controle e inspeções, sanções e duração do acordo. Mas várias questões, tais como o calendário do levantamento das sanções, ainda não foram resolvidas.
'Nem a favor, nem contra'
Segundo uma versão do acordo preliminar divulgada pelos americanos, o Irã deve reduzir consideravelmente o número de suas centrífugas, que servem para transformar o urânio, que enriquecido a 90% serve para a fabricação de bombas. Desta forma, Teerã suspenderá por ao menos 15 meses o enriquecimento de irânio na usina subterrânea de Fordo.
Sobre as sanções, os países ocidentais desejam uma retirada progressiva, de acordo com uma verificação dos compromissos do Irã pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Mas o Irã exige que todas as sanções econômicas contra o país sejam retiradas no primeiro dia da aplicação do acordo assinado com as grandes potências, segundo afirmou o presidente Hassan Rohani.
"Não assinaremos nenhum acordo se a sanções econômicas não forem totalmente anuladas no mesmo dia de sua aplicação", declarou Rohani durante um discurso por ocasião da Jornada Nacional da Tecnologia Nuclear.
Enquanto várias autoridades iranianas comemoraram os resultados das negociações na Suíça, o Guia Supremo disse que não "tomou uma posição" nesta fase.
"Eu não sou nem a favor nem contra", declarou ele, assegurando que "sempre apoiou e continua a apoiar a equipe de negociadores iranianos", criticada por alguns conservadores, que a acusa de ter feito muitas concessões.
Desconfiança de Washington
O aiatolá Khamenei insistiu que o acordo deve preservar "os interesses e a grandeza da nação", salientando a necessidade de uma indústria nuclear para o desenvolvimento econômico do país e não para obter armas nucleares.
"A indústria nuclear é uma necessidade para a energia, para converter água do mar em água potável, no campo da medicina, agricultura e outros setores", disse ele. "Precisamos trabalhar e fazer mais progressos nesta indústria." Apenas uma versão americana dos detalhes do acordo-quadro foi divulgada.
Mas o guia, que sempre desconfiou de Washington, com o qual Teerã não tem relações diplomáticas, negou qualquer "realidade" nesta versão. "Eu vi o texto (...) que não vai ser a base de um acordo", assegurou.