CÚPULA DAS AMÉRICAS

Obama e Raúl Castro iniciam nova história

Os presidentes dos EUA e de Cuba realizaram o 1º encontro formal entre dirigentes dos dois países em mais de meio século

Do AFP
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Publicado em 11/04/2015 às 21:00
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Os presidentes dos EUA e de Cuba realizaram o 1º encontro formal entre dirigentes dos dois países em mais de meio século - FOTO: MandeL Ngan/AFP
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PANAMÁ - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se reuniu neste sábado com seu colega cubano, Raúl Castro, no primeiro encontro entre dirigentes destes países em mais de meio século. A reunião - constatou um jornalista da AFP - teve início logo depois da foto oficial dos presidentes que participaram na VII Cúpula das Américas, na qual é a primeira vez que Cuba participa.

O encontro teria durado "cerca de uma hora” e não houve registro de tensão durante a conversa, na qual os dois presidentes expressaram sua disposição de avançar rumo à normalização das relações entre seus países, informou um alto funcionário americano que pediu para ter sua identidade preservada.
“Este é um momento histórico”, disse Obama aos jornalistas antes do início da reunião. “A história entre Estados Unidos e Cuba foi complicada”, assinalou. “Depois de 50 anos de políticas que fracassaram, é hora de tentar algo novo”, acrescentou. Raúl Castro, que estava a seu lado, destacou: “devemos ter muita paciência”.

"Tem sido uma história complicada a dos nossos países, mas estamos dispostos a avançar como ele está dizendo" e a “discutir tudo”, inclusive “os assuntos de direitos humanos”, acrescentou.
A ilha comunista ocupa pela primeira vez uma cadeira nestes fóruns hemisféricos, que começaram em 1994 sob os auspícios de Washington.

Em discurso na plenária da cúpula, Obama assegurou que as “mudanças de política com relação a Cuba” marcam um antes e um depois nas relações do hemisfério.

Em um tom marcantemente conciliador e até emocionado, Raúl Castro tomou a palavra para falar de um “diálogo respeitoso”, embora com “profundas diferenças” entre os dois países, acrescentou.
Na abertura do evento, na sexta-feira, um aperto de mãos simbolizou a decisão dois dois chefes de Estado, anunciada em 17 de dezembro, de caminhar rumo à reconciliação. Embora Obama e Raúl Castro tenham se cumprimentado nos funerais de Nelson Mandela, em 2013, esta foi a primeira vez em mais de cinco décadas que um presidente americano e um cubano dialogaram.

RAMOS DE OLIVEIRA

Nas sessões, Raúl Castro também disse saudar como um “passo positivo” que o fato de que Obama esteja a ponto de decidir sobre a presença de Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo do Departamento de Estado, completada por Síria, Irã e Sudão. “Aprecio como um passo positivo que decidirá rapidamente sobre a presença de Cuba na lista de terrorismo, na qual nunca deveria ter estado”, afirmou.


A retirada desta lista abriria o caminho para a retomada de laços diplomáticos, mas Cuba reivindica o fim do embargo imposto em 1962, como necessários para normalizar as relações. “Este e outros elementos devem ser resolvidos no processo de normalização das relações”, destacou.


Desde dezembro, os dois países tiveram três rodadas de conversações, mas a VII Cúpula das Américas acelerou as aproximações vertiginosamente.

Na quinta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, conversou durante quase três horas no Panamá com o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, sobre a abertura das embaixadas em Washington e em Havana. "É esperançosa uma Cúpula libertada das correntes da Guerra Fria. O diálogo deve servir para incentivar a cooperação multilateral” em diversos campos nos quais Cuba antes estava excluída, disse à AFP o acadêmico cubano Arturo López Levy, da Universidade de Denver (Estados Unidos).

MADURO ESTENDE A MÃO

Temia-se que o aumento das tensões entre Washington e Caracas afetasse o clima na cúpula, depois que Obama declarou, há um mês, a Venezuela - principal aliado de Cuba - como uma “ameaça” para a segurança dos Estados Unidos, ao sancionar sete funcionários daquele país.


Mas Raúl Castro também baixou o tom perante Obama sobre este tema. “A Venezuela não é uma ameaça. É positivo que o presidente americano tenha reconhecido”, disse.


Esta foi a primeira reação do presidente cubano aos esclarecimentos feitos esta semana pelo contraparte americano de que seu decreto sobre a Venezuela tinha sido uma mera formalidade.

"Eu estendo a minha mão para resolver os assuntos” entre os Estados Unidos e a Venezuela, disse Maduro, que também exigiu a anulação do decreto, ao qual qualificou de “desproporcional”.

Em entrevista à CNN, a vice-secretária de Estado americana, Roberta Jacobson, descartou uma suspensão do decreto. “Isso já está implementado. Significa apenas uma ordem sobre sete pessoas, não é contra o povo venezuelano, acho que já está em prática e não vamos mudá-lo”.

Ao fazer seu discurso, ao qual fizeram eco seus colegas de esquerda, Maduro disse ter levado a Obama mais de 11 milhões de assinaturas coletadas contra a medida. Mas o presidente americano já não estava, pois tinha saído para participar de reuniões bilaterais, entre as quais o encontro histórico com Castro.

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