Eduardo Galeano, falecido nesta segunda-feira (13) aos 74 anos de idade em Montevidéu, era um jornalista, cronista e escritor uruguaio, um contador de histórias que se tornou referência intelectual para a esquerda com sua obra "As Veias Abertas da América Latina".
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Eduardo Hughes Galeano nasceu em 3 de setembro de 1940 em Montevidéu, tendo adotado o nome materno para assinar seus textos.
Ensaísta comprometido com as causas da esquerda, explorou em suas obras as profundidades e os contrastes da América Latina.
"As Veias Abertas da América Latina" é a sua obra mais emblemática, na qual denunciou, em 1971, a opressão e amargura do continente em meio às ditaduras em toda a região. Traduzido para mais de 20 idiomas, o livro tenta - de acordo com as palavras do próprio Galeano - "explorar a história para impulsionar a fazê-la".
Esse livro foi o presente dado pelo já falecido presidente da Venezuela Hugo Chávez ao presidente americano Barack Obama na Cúpula das Américas de 2009, em Trinidad Tobago, um gesto que voltou a estimular as vendas da obra.
Mas, com uma amostra de autocrítica pouco comum, Galeano comentou há um ano numa coletiva de imprensa em Brasília que "não seria capaz de lê-lo novamente. Cairia dormindo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é chatíssima. Meu físico não aguenta mais. Teria que ser internado no hospital".
O escritor, cuja educação formal não passou do primeiro ano do Ensino Médio, afirmou ter aprendido a arte de contar histórias nos antigos cafés de Montevidéu, dos quais era um cliente assíduo.
"Eu tive a sorte de conhecer Scheherazade; não aprendi a arte de contar histórias nos palácios de Bagdá, minhas universidades foram os antigos cafés de Montevidéu; os contadores de histórias anônimos me ensinaram o que eu sei", disse o autor em outubro de 2009, em Madri.
"Nos cafés descobri que o passado estava presente e que a memória poderia ser contada de forma a deixar de ser ontem para tornar-se agora", acrescentou o mágico das palavras, que cativou com suas letras e sua voz.
Galeano começou sua carreira de jornalista aos 14 anos, quando publicou sua primeira caricatura no jornal El Sol, do Partido Socialista do Uruguai, sob a assinatura de "Gius", onomatopeia irônica de seu sobrenome de origem galesa.
Entre 1961 e 1964 ele foi editor da prestigiada revista Marcha, dirigida por Carlos Quijano e que era reduto de intelectuais latino-americanos, para qual também escrevia Mario Benedetti. Em seguida, foi diretor do jornal independente de esquerda Época (1964-1966).
O romance "Los días seguientes" (1963) e o livro de contos "Los fantasmas de los días del león y otros relatos" (1967) revelaram a sua veia literária entre cenários de Montevidéu, conflitos existenciais e atmosferas sutis.
"Vagamundo" (1973) e "La canción de nosotros" (1975, que lhe rendeu o prêmio Casa das Américas) confirmaram suas habilidades como narrador, misturando uma história social com mitos e lendas, ficção e testemunhos.
Com a instauração da ditadura em 1973 no Uruguai, que durou 12 anos, Galeano, vinculado a correntes marxistas, exilou-se na Argentina, onde fundou e dirigiu a revista literária Crisis.
Dois anos mais tarde mudou-se para Espanha, Calella (norte de Barcelona), onde escreveu para publicações deste país e colaborou com meios de comunicação na Alemanha e no México.
Na espetacular trilogia "Memória do fogo" (I - Os nascimentos, 1982, II - As caras e as máscaras, 1984, e III - O século do vento, 1986), Galeano revive o passado indigenista latino-americano, onde a história passada e o presente se entrelaçam, em relatos breves de uma potência sem par.
Com o retorno à democracia em 1985, Galeano regressou ao Uruguai, onde residiu desde então e manteve uma prolífica produção.
Em 1989 editou "O livro dos abraços", que o próprio autor definiu como "um livro sobre os vínculos com os demais".
Seguiram coleções de crônicas e artigos, e até mesmo um livro sobre o futebol, esporte que era fanático: "O Futebol ao Sol e à Sombra" (1995).
Fiel a sua política, continuou a publicar histórias de povos indígenas, da luta pelos recursos naturais e questionamentos sobre a guerra no Iraque, os Estados Unidos, os grandes bancos ou multinacionais internacionais.
Ganhou o Prêmio Casa das Americas duas vezes (em 1975 e 1978) e sua trilogia "Memória do fogo" recebeu o American Book Award de 1989, uma distinção atribuída pela Universidade de Washington.
Em 2010, recebeu o prêmio sueco Stig-Dagerman por "sua escrita que apoia inabalavelmente todos aqueles que são marginalizados e condenados".