O Conselho de Segurança das Nações Unidas adotou nesta terça-feira (14) uma resolução que ordena aos milicianos xiitas huthis que se retirem das zonas conquistadas no Iêmen e estabelece um embargo sobre as armas, numa primeira resolução que gera ceticismo quanto a seus resultados.
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O Iêmen tem sofrido há 20 dias com ataques aéreos de uma coalização liderada pela Arábia Saudita visando os rebeldes huthis e seus aliados, militares fiéis ao ex-presidente Ali Abdallah Saleh. As centenas de mortes civis voltaram a ser denunciada pelos líderes das Nações Unidas.
Sinal da debilidade do Estado, combatentes tribais assumiram nesta terça-feira o controle do único terminal de gás do Iêmen, situado em Belhaf, no Golfo de Áden, depois que a unidade do exército que protegia o local se rendeu.
A resolução da ONU foi aprovada por 14 dos 15 membros do Conselho, a Rússia se absteve da votação, e ordena aos milicianos que se retirem das localidades conquistadas desde o verão de 2014, quando lançaram uma ofensiva que permitiu a conquista de vastas regiões do país, incluindo a capital Sanaa.
Eles tomaram a capital em janeiro, provocando a fuga do presidente Abd Rabbo Mansour Hadi, antes de avançarem para o sul onde atacaram em 26 de março a cidade de Áden, coincidindo com o início da operação aérea ábare conduzida pelo reino sunita saudita.
Apoio político
A resolução, elaborada por países do Golfo e apadrinhada pela Jordânia, pede a "todas as partes em conflito" que negociem um "fim rápido" das hostilidades.
Mas não impõe à coalizão árabe que combate os huthis, apoiados pelo Irã, a suspensão dos ataques aéreos.
O texto também pede aos combatentes que preservem a população civil.
Até então, o Conselho de Segurança havia se contentado em proclamar seu apoio ao presidente "legítimo" Hadi, refugiado na Arábia Saudita.
Antes do início da campanha aérea, o conselho impôs sanções contra os dois comandantes huthis e o ex-presidente Saleh, o que não impediu os rebeldes de conquistar o poder.
Nesta terça, o conselho decidiu congelar os bens e proibir que viajem o líder dos huthis Abdel Malek Al-Huthi e Ahmed Ali Abdallah Saleh, filho do ex-presidente.
Centenas de civis mortos
Apesar da resolução, diplomatas do conselho se mostraram céticos, lembrando que segundo analistas da ONU, o Iêmen possui mais de 40 milhões de armas e que os huthis não viajam regularmente nem têm contas em bancos estrangeiros.
Quanto ao embargo sobre as armas, o Irã, que é suspeito de fornecer material aos huthis apesar de sua negativa, já é alvo de um embargo do tipo.
Neste contexto, Teerã, que condenou a campanha aérea conduzida por seu rival saudita, propôs um plano de paz para o Iêmen, que prevê um cessar-fogo seguido de negociações entre as partes coordenadas por mediadores estrangeiros, segundo declarou nesta terça-feira o ministro iraniano das Relações Exteriores.
"Propus um cessar-fogo, seguido de um diálogo que inclua todas as partes", declarou Javad Zarif à margem de uma visita a Madri.
Ele também informou que o cessar-fogo será seguido de envio de ajuda humanitária e da constituição de um governo que inclua todas as forças presentes no conflito.
O embaixador russo na ONU, Vitali Tchurkin, ressaltou que Moscou prefere um "embargo sobre as armas total", incluindo os dois lados em conflito e não apenas os huthis.
Por sua vez, o alto comissário da ONU para os direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, pediu uma investigação sobre as perdas civis no Iêmen, onde 736 mortos foram registrados.
Mas o número real de vítimas é muito mais elevado, uma vez que muitos corpos não são enviados aos centros médicos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nesta terça, os ataques aéreos e combates fizeram 52 mortos, majoritariamente huthis, de acordo com várias fontes.