Naufrágio

Europa sob pressão após tragédia com imigrantes no Mediterrâneo

Crise aberta por naufrágio que provocou a morte de 800 pessoas em frente à costa da Líbia centrará a cúpula extraordinária da União Europeia

Da AFP
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Publicado em 22/04/2015 às 13:56
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Crise aberta por naufrágio que provocou a morte de 800 pessoas em frente à costa da Líbia centrará a cúpula extraordinária da União Europeia - FOTO: Foto: AFP
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Os governos europeus estão submetidos nesta quarta-feira a uma crescente pressão para evitar novas tragédias marítimas de migrantes, enquanto começam a ser divulgados os detalhes angustiantes sobre as pessoas que morreram em um dos piores naufrágios no Mediterrâneo.

A crise aberta por este naufrágio, que provocou no último fim de semana a morte de 800 pessoas em frente à costa da Líbia, centrará a cúpula extraordinária da União Europeia (UE) de quinta-feira.

Sabe-se agora que a maioria das pessoas que estavam no barco de 20 metros de comprimento estavam trancadas e amontoadas no porão do navio no momento em que ele colidiu com um cargueiro português que havia ido ajudá-lo.

Apenas 28 pessoas sobreviveram - entre elas 2 membros da tripulação, que foram presos - e 24 corpos foram resgatados. Um adolescente de Bangladesh que sobreviveu explicou que havia três tipos de passageiros a bordo.

"Os que tinham menos dinheiro estavam presos no porão", disse o jovem, identificado por seu primeiro nome, Abdirizak, ao jornal Corriere della Sera. "Nós estávamos no nível médio, e apenas os que pagaram mais estavam na parte de cima" do barco, acrescentou.

Quando a primeira colisão ocorreu, em plena escuridão, ocorreram cenas de terror. "Todos gritavam, empurravam, batiam, em um ambiente de terror. Podíamos ouvir os que estavam presos no porão gritarem 'socorro!'", contou. "Não sei como, mas conseguimos começar a nadar no momento em que o barco afundava", a 110 km da costa líbia, relatou o adolescente.

Segundo o testemunho de outro jovem de 17 anos ao jornal britânico The Daily Telegraph, a maioria dos migrantes eram africanos e não sabiam nadar. Os migrantes teriam pago entre 330 e 660 euros por sua viagem, segundo a procuradoria de Catania. Esta é a pior de uma série de tragédias que já cobrou mais de 1.750 vidas este anos, 30 vezes mais que no mesmo período em 2014.

Principal responsável

O capitão da embarcação que naufragou com centenas de imigrantes e foi apontado pela procuradoria italiana como o único responsável pela tragédia.

Segundo a justiça, a responsabilidade do capitão do barco, um tunisiano de 27 anos, Mohammed Ali Malek, é inquestionável, já que o homem provocou o naufrágio por ter sobrecarregado o barco e se mostrar sem condições de realizar manobras adequadas.

O balanço oficial da tragédia é de 24 mortos e 28 sobreviventes, mas o número de desaparecidos soma cerca de 800 pessoas, entre elas crianças e mulheres, segundo organizações humanitárias internacionais.

A Itália pediu a seus sócios da União Europeia nesta quarta que combatam juntos os traficantes de seres humanos no Mediterrâneo. Referindo-se a esses homens como "comerciantes de escravos do século XXI", também propôs intervir a longo prazo para ajudar os países ao sul da Líbia a se estabilizar.

Em uma declaração na câmara de deputados, depois de um minuto de silêncio em memória das 800 vítimas da tragédia, o chefe de governo italiano, Matteo Renzi, estimou que o que acontece hoje com tráfico de pessoas recorda a época em que se enviava milhares de escravos da África para a América.

"Não é apenas uma questão de segurança e de terrorismo, e sim de dignidade humana", enfatizou. A organização Anistia Internacional, por sua vez, pediu aos líderes europeus que atuem de forma urgente para acabar com a morte de imigrantes no Mediterrâneo.

Em um relatório publicado nesta quarta-feira e apresentado em Paris, a organização não governamental com sede em Londres exigiu a colocação em andamento imediata de uma operação humanitária "com barcos adequados, aeronaves e outros recursos".

"A negligência da Europa em salvar milhares de imigrantes e refugiados que se arriscam ao perigo no Mediterrâneo seria similar à negativa de bombeiros em salvar pessoas pulando de um edifício em chamas", afirma o texto.

Um plano de ação apresentado pela Comissão Europeia possui dez pontos, que incluem reforçar as operações de controle e resgate para responder à situação de crise migratória.

Este plano será apresentado na quinta-feira aos chefes de Estado e de governo da União Europeia durante a cúpula extraordinária, informou a Comissão em um comunicado.

Mas os especialistas são prudentes. "É preciso atacar a causa do problema, e não sua consequência. Quem está determinado a vir (para a Europa) sempre achará os meios", afirma Kader Abderrahim, do Instituto de Pesquisas Internacionais e Estratégicas (IRIS) de Paris.

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