Genocídio

Turquia celebra com grande pompa centenário da batalha de Galípoli

Líderes de todo o mundo comparecerão às margens de Dardanelos para lembrar os milhares de soldados do Império Otomano e do corpo expedicionário franco-britânico mortos durante os nove meses de luta

Da AFP
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Publicado em 22/04/2015 às 12:26
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Líderes de todo o mundo comparecerão às margens de Dardanelos para lembrar os milhares de soldados do Império Otomano e do corpo expedicionário franco-britânico mortos durante os nove meses de luta - FOTO: Foto: AFP
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A Turquia celebra com grande pompa na sexta-feira o centenário da batalha de Galípoli, com toques nacionalistas e sob a sombra de outro centenário, mais polêmico, o do genocídio armênio.

Vinte líderes de todo o mundo comparecerão às margens de Dardanelos para lembrar os milhares de soldados do Império Otomano e do corpo expedicionário franco-britânico mortos durante os nove meses de luta, que terminou com uma derrota estrondosa dos Aliados.

Entre eles estarão o príncipe Charles da Inglaterra, herdeiro da Coroa britânica, e os primeiros-ministros de Austrália e Nova Zelândia, dois países cujos combatentes - os famosos "Anzacs" - se sacrificaram heroicamente em território turco, contribuindo para forjar suas identidades nacionais.

Erdogan prometeu fazer desta celebração um momento de reconciliação. "Os filhos dos países que se enfrentaram em campos rivais há 100 anos se reúnem sob o mesmo teto para lançar ao mundo uma mensagem de paz e fraternidade", disse o chefe de Estado turco, que presidirá na sexta-feira no campo de batalha uma grande cerimônia internacional.

Uma sobra considerável pesará, no entanto, sobre Galípoli: a das celebrações que irão ocorrer ao mesmo tempo em Erevan em memória das centenas de milhares de armênios mortos sob o Império otomano a partir de 24 de abril de 1915.

Esta grande catástrofe gerou nos últimos dias grandes tensões entre as autoridades de Ancara - que negam que o massacre tenha sido planejado - e os que o classificam de genocídio, como o papa Francisco ou o Parlamento Europeu.

Fibra patriótica

O presidente armênio, Serge Sarkissian, inclusive acusou seu colega turco de ter programado deliberadamente as celebrações de Galípoli para 24 de abril - como já foi feito no ano passado - para desviar a atenção dos crimes cometidos pelo Império otomano.

A menos de dois meses das eleições legislativas de 7 de junho, Erdogan não deixará de aproveitar estas festividades para exaltar a fibra patriótica dos turcos.

O vídeo que apresenta a celebração, minuciosamente elaborado pela presidência, inunda há vários dias as televisões do país, e dá o tom de como serão os festejos. Nele, Erdogan lê um texto do poeta nacionalista Arif Nihat Asya e reza diante do túmulo de um dos soldados turcos mortos em combate.

A batalha dos Dardanelos começou em fevereiro de 1915 quando uma flotilha franco-britânica tentou forçar o Estreito dos Dardanelos para se apoderar de Istambul, capital de um Império otomano então aliado da Alemanha.

A expedição foi rechaçada em março, mas os aliados desembarcaram em 25 de abril em Galípoli. Após nove meses de sangrenta guerra de trincheiras, que deixou mais de 400.000 mortos ou feridos nos dois campos, os aliados sofreram uma derrota humilhante.

Mas apesar desta vitória, o Império otomano já estava em seu declínio, acabaria a guerra nas fileiras dos derrotados e seria desmantelado. No entanto, a batalha de Galípoli se converteu em um símbolo da resistência que levou ao advento da República turca moderna, em 1923.

Seu pai fundador, Mustafá Kemal, que dirigiu um regimento na batalha, forjou sua lenda de herói nacional ao pronunciar este discurso as suas tropas: "Suponho que não há ninguém entre nós que não prefira morrer antes que sejam repetidos os vergonhosos acontecimentos da guerra dos Bálcãs". 

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