Em uma nova pesquisa controversa, cientistas chineses anunciaram que foram capazes de manipular pela primeira vez o genoma embrionário humano, provocando preocupações éticas sobre essa nova fronteira na ciência.
O trabalho, que foi publicado na quarta-feira (22) na revista Nature News, apareceu em uma revista científica pouco conhecida, a Protein and Cell.
No texto, o pesquisador de função genética Junjiu Huang, da Universidade Sun Yat-sen de Guangzhou, e seus colegas descrevem como editaram alguns embriões obtidos de uma clínica de fertilidade.
Os embriões em questões já haviam sido qualificados como inviáveis e não teriam chances de dar à luz a uma vida humana, porque tinham um conjunto extra de cromossomos após serem fertilizados por dois espermatozoides.
Os cientistas "tentaram modificar o gene responsável pela beta-talassemia, uma doença sanguínea potencialmente fatal, usando uma técnica de edição genética conhecida como CRISPR/Cas9", segundo a reportagem da Nature News.
Os cientistas chineses também relataram "grandes dificuldades" e que seu trabalho mostra "a necessidade urgente de melhorar esta técnica para que possa ser aplicada na medicina".
Os pesquisadores injetaram em 86 embriões uma versão corrigida do gene defeituoso e esperaram 48 horas. Setenta e um deles sobreviveram, dos quais 54 foram examinados.
Os pesquisadores descobriram que apenas 28 "foram emendados com sucesso", mas apenas uma fração deles continha o novo gene, segundo o relato.
"Se desejarmos aplicar esta técnica em embriões normais, precisaremos de uma taxa de substituição genética de 100%", declarou Huang, citado pela revista.
"Esta é a razão pela qual suspendemos o experimento, porque pensamos que esta técnica ainda é muito imatura", disse ele.
Ainda mais preocupante foi "o número surpreendentemente elevado" de mutações inesperadas que surgiram durante o processo de edição genética: uma taxa muito mais alta do que a relatada em estudos anteriores sobre a edição genética em ratos ou células humanas.
Estas mutações podem ser prejudiciais e são a principal razão pela qual há muitas preocupações entre a comunidade científica desde que se espalhou no ano passado rumores sobre o trabalho da equipe chinesa.
"Este estudo destaca algo que já sabíamos: é preciso acabar com este tipo de pesquisa e ter longas conversas para decidir qual direção tomar", disse Edward Lanphier, presidente da Sangamo BioSciences, em Richmond, Califórnia, também citado no estudo da Nature News.