Diplomacia

Espionagem alemã teria eliminado documentos de escutas de aliados

Em 2013, um agente da inteligência estudou os pedidos de escuta feitos pela NSA americana ao BND dentro do acordo de cooperação antiterrorista acertado em 2002

Da AFP
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Publicado em 01/05/2015 às 13:20
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Em 2013, um agente da inteligência estudou os pedidos de escuta feitos pela NSA americana ao BND dentro do acordo de cooperação antiterrorista acertado em 2002 - FOTO: Foto: AFP
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O serviço de inteligência da Alemanha (BND), acusado de ter espionado empresas e instituições a pedido da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, eliminou 12.000 pedidos de espionagem de dirigentes europeus, afirma a revista Der Spiegel na edição de sábado.

Em 2013, um agente da inteligência estudou os pedidos de escuta feitos pela NSA americana ao BND dentro do acordo de cooperação antiterrorista acertado em 2002.

O agente extraiu 12.000 pedidos de dirigentes públicos, entre os quais figuravam "um número de autoridades da diplomacia francesa e membros de instituições da União Europeia e de vários países europeus", afirma Der Spiegel.

Em 14 de agosto de 2013, o agente do BND enviou um e-mail a sua chefia perguntando o que devia fazer com esses pedidos, e recebeu a lacônica resposta de "apagá-los", segundo a revista alemã.

O escândalo das escutas que teriam sido realizadas pelos serviços secretos alemães a pedido dos Estados Unidos pode atingir o governo da da chanceler Angela Merkel, segundo afirmou na véspera outro jornal alemão, o conservador Die Welt, geralmente favorável à chefe de governo alemão.

A maioria da imprensa local apresentou a notícia em sua primeira página. 

O jornal Bild, que também não costuma ser muito crítico à chanceler, classificou de hipócritas as declarações feitas por Merkel em 2014, após a revelação de que a NSA - serviços de inteligência americanos - havia espionado um de seus telefones: "Espionar amigos é totalmente inaceitável", declarou na época.

O jornal Süddeutsche Zeitung também revelou na quinta-feira que os serviços secretos alemães espionaram "funcionários de alto escalão do ministério francês das Relações Exteriores, do palácio do Eliseu (sede da presidência francesa) e da Comissão Europeia".

"Não sei o que aconteceu. As autoridades alemãs, incluindo os parlamentares, devem se encarregar disso, e veremos o que acontece", declarou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, enquanto Paris afirmava manter "intensos contatos com (seus) sócios alemães sobre esta questão".

Estas novas acusações do Süddeutsche Zeitung se somam à suposta espionagem do BND às empresas aeronáuticas europeias EADS (hoje Airbus) e Eurocopter (atualmente Airbus Helicopters) em nome da NSA.

A Airbus indicou na quinta-feira que havia "pedido informações a Berlim e que apresentará uma acusação contra pessoa desconhecida por suspeitas de espionagem industrial".

Além do escândalo, o que mais irrita a imprensa alemã são as possíveis mentiras do governo.

A oposição acusa o governo de ter mentido ao declarar no dia 14 de abril que não sabia nada sobre uma possível espionagem econômica por parte da NSA.

"Nego categoricamente a afirmação segundo a qual o governo não disse a verdade", respondeu na quarta-feira Steffen Seibert, porta-voz de Merkel.

Na Alemanha é quase certo que a chanceler voltará a disputar em 2017 um quarto mandato e, se as pesquisas atuais não mudarem, será eleita com uma grande vantagem.

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