Sobreviventes do terremoto do Nepal, procedentes das áreas mais devastadas do país, contaram nesta sexta-feira como foram abandonados à própria sorte depois que perderam familiares e os bens na tragédia que deixou mais de 6.200 mortos.
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À medida que as equipes de emergência conseguem acesso às localidades mais remotas nas montanhas, a dimensão da tragédia aumenta.
As localidades mais próximas ao epicentro do terremoto de 7,8 graus foram "totalmente devastadas", informou a Cruz Vermelha.
A região de Sindhupalchowk, ao nordeste da capital Katmandu, foi particularmente afetada pelo terremoto do sábado passado.
"Uma das equipes que retornou de Shautara, no distrito de Sindupalchowk, uma região montanhosa ao nordeste de Katmandu, informou que 90% das casas foram destruídas", disse Jagan Chapagain, diretor regional da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha (FISCR).
O hospital desabou e as pessoas usaram as próprias mãos para retirar os escombros, na esperança de encontrar sobreviventes", completou.
"Praticamente todas as casas do meu vilarejo foram destruídas e morreram 20 pessoas. Perdemos todo o gado", relatou Kumar Ghorasainee, um professor de inglês, em meio às ruínas de Melamchi.
A escola desabou e as crianças não têm para onde ir, disse.
"Ninguém veio nos ajudar. Os caminhões e os carros passam sem parar. O que vamos fazer?", questiona, angustiado.
Em Melamchi, os restaurantes e as lojas permanecem fechadas e as ruas desertas.
Nos vilarejos próximos, onde vivem produtores de arroz, todas as casas foram gravemente afetadas e as pessoas dormem em barracas improvisadas.
Em Katmandu, os coordenadores da ajuda intensificaram as operações nas zonas rurais, mas nesta sexta-feira os moradores de Melamchi ainda esperavam um auxílio que não chega.
"Vemos helicópteros e aviões passando, mas ninguém para", conta Shalik Ram Ghorasainee, um agricultor de 23 anos.
"Falam de ajuda do exterior e nós esperamos. Mas, de fato, ninguém veio até aqui. Somos ignorados", afirma.
Ghorasainee contou que uma equipe de voluntários japoneses passou pelo vilarejo, parou por um minuto para entregar analgésicos a um homem caído na beira da estrada e seguiu viagem.
O terremoto ocorrido no sábado passado no Nepal deixou 6.204 mortos e 13.932 feridos, segundo o último boletim oficial, divulgado nesta sexta-feira pelas autoridades locais.
De acordo com a ONU, oito dos 28 milhões de habitantes do Nepal foram afetados pela catástrofe, incluindo 1,7 milhão de menores.
As equipes de socorro resgataram com vida na quinta-feira um adolescente de 15 anos e uma mulher dos escombros de Katmandu.
O resgate de Pemba Tamang, que sobreviveu bebendo manteiga clarificada, foi recebido em meio a aplausos pela multidão reunida diante dos escombros do albergue Hilton Guesthouse, onde o jovem trabalhava e ficou soterrado.
"Não acreditava que fosse sair vivo", disse à AFP.
Poucas horas depois, os socorristas retiraram uma segunda sobrevivente, Krishna Devi Khadka, que estava presa entre as ruínas de um edifício na capital nepalesa, após 10 horas de resgate.
Os dois salvamentos significaram um raio de esperança no sombrio panorama no Nepal.
Mais de 20 países enviaram equipes para ajudar nos trabalhos de emergência.
Voluntários franceses, israelenses e noruegueses foram os responsáveis pelo resgate de Krishna Devi Khadka.
UE procura mil desaparecidos
A União Europeia (UE) procura quase mil cidadãos no Nepal, dos quais não tem notícias desde o terremoto de 25 de abril, informou o embaixador do bloco em Katmandu, Rensje Teerink.
Várias pessoas estavam no Nepal praticando montanhismo perto do epicentro do tremor ou do Everest, segundo o diplomata.
"Eles são considerados desaparecidos, mas não sabemos exatamente qual é a situação", completou Teerink.
"Muitos estavam na região de Langtang e outros perto de Lukla", disse, em referência à pequena cidade do Himalaia, que dá passagem ao Everest.
Outra fonte da UE, que pediu anonimato, afirmou que vários desaparecidos devem ser localizados sãos e salvos. A falta de notícias seria provocada pela dificuldade de acesso às áreas devastadas.