As autoridades de Israel tentavam nesta segunda-feira acalmar (4) os israelenses de origem etíope, após grandes manifestações no último fim de semana para denunciar o racismo e a discriminação no Estado hebreu.
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"Temos de estar unidos contra o fenômeno do racismo, denunciá-lo e erradicá-lo", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, citado em um comunicado do governo, depois de uma reunião de três horas com representantes da comunidade etíope.
Netanyahu decidiu criar um comitê ministerial para tratar dos desafios de integração enfrentados pelos israelenses de origem etíope, incluindo as dificuldades nas áreas da educação, habitação e emprego.
Por sua vez, o presidente israelense, Reuven Rivlin, admitiu nesta segunda-feira que Israel cometeu "erros" no tratamento à comunidade etíope judaica e descreveu o sofrimento das vítimas como uma "ferida aberta".
Mais de 60 policiais e manifestantes ficaram feridos domingo à noite em Tel Aviv, segundo um novo balanço da polícia, durante um protesto que terminou em tumulto.
A polícia usou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, enquanto os manifestantes jogaram pedras, garrafas e cadeiras.
A manifestação, que reuniu 10.000 pessoas segundo a imprensa, foi convocada em protesto por um vídeo que mostra dois policiais agredindo um soldado israelense de origem etíope.
Muitos israelenses de outras origens participaram da marcha, gritando palavras de ordem, como "um policial violento deve ir para a prisão" e "pedimos igualdade de direitos".
Em Israel vivem mais de 135.000 judeus etíopes, que emigraram em duas ondas, a primeira em 1984 e a segunda em 1991.
"Ferida aberta"
O soldado Damas Pakada declarou à rádio militar que não conseguiu participar na manifestação de domingo por sua condição de militar. "Sou contra a violência, mas as autoridades precisam ouvir a voz da nossa comunidade", acrescentou.
O primeiro-ministro prometeu já no domingo à noite que "todas as denúncias contra a polícia seriam estudadas".
Mas o presidente Rivlin foi mais longe, afirmando nesta segunda-feira que os "manifestantes de Jerusalém e de Tel Aviv revelaram uma ferida aberta no coração da sociedade israelense (...) Não olhamos, não escutamos o suficiente".
Dezenove manifestantes detidos no domingo compareceram nesta segunda-feira perante um tribunal de Tel Aviv, que decidiu prorrogar a detenção de 15 entre eles, segundo a polícia.
A delegacia de Kiryat Gat, uma cidade no sul de Israel, estava sob alerta máximo nesta segunda-feira, após o anúncio de uma nova manifestação esta tarde.
Segundo a Associação Israelense dos Judeus Etíopes, a renda desta comunidade é 40% menor do que a média da população de Israel.
"A explosão de violência no domingo não se deve apenas à violência policial, também é a expressão de um sentimento de raiva contra a discriminação", explicou Hagit Hovav, um membro da associação.
Wonde Akale, diretor-geral das organizações dos povos originários da Etiópia em Israel, também falou de um "excesso geral".
"Os jovens de nossa comunidade nascidos aqui, e que fazem parte do exército, sentem-se excluídos por causa de sua cor de pele. A sociedade israelense relegou-nos a guetos", lamentou.
Em Israel vivem mais de 135 mil judeus etíopes, descendentes de comunidades isoladas, que as autoridades religiosas de Israel reconheceram tardiamente.
A decisão levou à chegada a Israel de 80.000 etíopes que tiveram que superar um abismo cultural e enfrentar uma difícil integração na sociedade israelense.