Tragédia humanitária

Indonésia resgata centenas de imigrantes em meio a 'pingue-pongue humano'

Exilados de Bangladesh ou Mianmar tentam fugir da miséria ou das perseguições em seus países de origem

Da AFP
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Publicado em 15/05/2015 às 12:04
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Exilados de Bangladesh ou Mianmar tentam fugir da miséria ou das perseguições em seus países de origem - FOTO: Foto: AFP
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Centenas de imigrantes à deriva foram resgatados nesta sexta-feira na costa da Indonésia, mas a solução global para a tragédia humanitária está distante, após a ameaça de Mianmar de boicotar uma reunião regional sobre o tema.

O destino incerto de milhares de exilados de Bangladesh ou Mianmar, que tentam fugir da miséria ou das perseguições em seus países de origem, é similar ao drama dos migrantes que tentam chegar ao continente europeu atravessando o Mediterrâneo.

Cerca de 800 imigrantes foram resgatados após o naufrágio de seu barco por pescadores na costa da província de Aceh, no noroeste da Indonésia. A embarcação havia sido obrigada a retornar quando se aproximou da Malásia, destino habitual dos migrantes.

O primeiro-ministro malaio, Najib Razak, afirmou que está "muito preocupado com o sofrimento" dos migrantes, mas garantiu que o governo adotará as "medidas necessárias".

As organizações humanitárias denunciaram o jogo de "pingue-pongue humano" dos governos da Indonésia, Malásia e Tailândia.

Segundo os defensores dos direitos dos exilados - que incluem muitos rohingyas, minoria muçulmana de Mianmar, uma das mais perseguidas do mundo, de acordo com a ONU -, até 8.000 pessoas estariam à deriva no mar, presas em barcos e sob o risco de morrer de fome ou doença.

"Segundo as informações iniciais que recebemos, eles foram levados pela Marinha da Malásia até a fronteira marítima com a Indonésia", declarou Sunarya, chefe de polícia da localidade indonésia de Langsa, na província de Aceh, onde os resgatados desembarcaram.

A polícia descreveu cenas terríveis de pessoas empurrando outras antes do resgate. "Estavam matando uns aos outros", afirmou Sunarya. "Como (o barco) estava sobrecarregado, tinham que tirar parte das pessoas", completou.

Depois deste barco, um pouco mais longe da costa, surgiu outra embarcação que transportava 50 pessoas, também resgatadas por pescadores. No total, 1.300 migrantes chegaram à província de Aceh nos últimos dias.

- 'O mundo julgará' -

Outro barco com quase 300 royingyas deixou a costa da Tailândia e retornou para alto-mar, depois que as autoridades consertaram o motor e forneceram mantimentos aos refugiados, de acordo com Bangcoc.

Os passageiros, incluindo muitas crianças e mulheres, estavam desesperados por água e comida, segundo correspondentes da AFP que conseguiram se aproximar do barco, quando este ainda estava em Koh Lipe, ilha do sul da Tailândia.

Os imigrantes relataram que em dois meses de uma viagem terrível 10 pessoas morreram, de fome e doença, e os corpos foram lançados ao mar.

"Não temos nada para comer, não há nenhum lugar para dormir. Meus filhos estão doentes", se queixava Sajida, de 27 anos e mãe de quatro crianças.

O barco tinha como destino a Malásia, mas o governador da província tailandesa de Satun, Dejrat Limsiri, explicou à AFP que seguia rumo à Indonésia.

"Demos comida a eles. Estão fora do território tailandês. Vão tentar ir à Indonésia, já que, ao que parece, não podem ir à Malásia", acrescentou, ignorando um apelo da ONU de socorrê-los para evitar uma tragédia.

A cooperação regional para solucionar a questão parece cada vez mais difícil, depois que Mianmar, país majoritariamente budista que se recusa a conceder cidadania à minoria rohingya, ameaçou não comparecer à reunião de cúpula convocada pela Tailândia para 29 de maio para abordar a questão.

"É pouco provável que participemos. Não aceitamos que (os tailandeses) nos convidem apenas para aliviar a pressão que estão enfrentando", afirma um comunicado da presidência birmanesa.

O alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Zeid Raa'ad al-Hussein, declarou estar consternado com esta política que consiste em rejeitar os barcos, porque "levará forçadamente a muitas mortes que poderiam ser evitadas".

Phil Robertson, diretor adjunto na Ásia da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, advertiu que "o mundo julgará estes governos pela forma como tratam homens, mulheres e crianças mais vulneráveis".

Ele pediu o fim do "pingue-pongue humano".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também apelou aos países do sudeste asiático que "respeitem a obrigação de resgate no mar e a proibição de expulsão".

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