O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, negou nesta quarta-feira (20) que um acordo sobre o programa nuclear iraniano com as grandes potências possa incluir a inspeção das instalações militares e entrevistas com cientistas nucleares.
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"Já afirmamos que não permitiremos nenhuma inspeção das instalações militares por parte dos especialistas estrangeiros", declarou Khamenei durante uma cerimônia de entrega de diplomas a cadetes militares.
"Também dizem que devemos permitir entrevistas com cientistas nucleares. Isto são interrogatórios. Não permitirei que estrangeiros venham falar com cientistas que avançaram com a ciência a este nível", declarou Khamenei.
Ele ressaltou que nenhum governo inteligente permitiria algo assim e disse que é preciso resistir diante de "pedidos excessivos".
Estados Unidos, Grã-Bretanha, China, França, Rússia e Alemanha negociam com Teerã um acordo que deve ser concluído até 30 de junho para evitar que o Irã possa desenvolver armamento nuclear, em troca de uma suspensão das sanções internacionais.
Há várias semanas, especialistas políticos e técnicos das duas partes negociam para finalizar os termos de um acordo definitivo.
A questão das inspeções é um dos temas delicados das negociações, sobretudo no que se refere às instalações militares.
Segundo os Estados Unidos, o Irã deve aceitar que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) realize inspeções reforçadas de suas instalações nucleares, no âmbito do regime do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que permite inspeções sem aviso prévio.
No fim de abril, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Azrif, disse que o Irã estava pronto para mostrar a maior transparência aceitando a aplicação do protocolo adicional.
Teerã havia aplicado o protocolo adicional até fevereiro de 2006, antes de renunciar a ele depois que seu dossiê nuclear foi apresentado ante o Conselho de Segurança da ONU.
No entanto, há dois dias Zarif disse que os controles da AIEA do programa nuclear do país tinham seus limites.
"O protocolo adicional não permite, de nenhuma maneira, um acesso sem limites e sem razões às infraestruturas do país", disse Zarif, referindo-se às instalações militares.
O ministro afirmou que as regras do protocolo adicional permitiam alguns acessos, e não as inspeções das instalações militares, acrescentando que estas regras estavam definidas para proteger os segredos militares ou econômicos do país.
"Para garantir o caráter pacífico do programa nuclear, não é preciso violar nem a soberania, nem as regras de segurança dos países", acrescentou Zarif.
Também negando que a AIEA possa interrogar os cientistas nucleares iranianos, o guia supremo, que tem a última palavra nos grandes assuntos do país, incluindo o programa nuclear, quer, por sua vez, proteger este projeto.
"O inimigo insolente quer que autorizemos que venham falar com nossos cientistas sobre um processo essencial desenvolvido no interior do país, mas de nenhuma forma permitiremos isso", disse Khamenei, acrescentando que outros países "ocultam inclusive a identidade de seus cientistas nucleares".