A polícia da Malásia encontrou no norte do país covas rasas com dezenas de corpos que seriam de imigrantes em ao menos 17 acampamentos clandestinos abandonados. Os locais seriam usados por traficantes de pessoas na Tailândia para manter muçulmanos da etnia minoritária rohingya que fugiam de Mianmar.
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Originários do noroeste de Mianmar, os rohingyas são considerados imigrantes ilegais em seu próprio país. Lei aprovada pelo Parlamento em 1982 reconheceu 135 etnias nativas da Birmânia, nome pelo qual o país era conhecido, mas retirou a cidadania de 2 milhões de rohingyas por considerá-los etnia implantada durante a colonização britânica, que trouxe milhares de trabalhadores muçulmanos de Bangladesh. Mas historiadores apontam como origem dos rohingyas uma região que superava fronteiras modernas e incluía áreas de ambos os países.
Os rohingyas são hoje considerados pela ONU uma das minorias étnicas mais perseguidas do planeta e a entidade alerta para o risco de um genocídio do grupo no Sudeste Asiático.
Os acampamentos ficam em Padang Besar, um distrito na província de Perlis, perto da fronteira com a Tailândia. No início deste mês, a polícia encontrou outras dezenas de acampamentos com 33 corpos em covas rasas no lado tailandês da fronteira.
Os campos revelam uma estrutura oculta mantida por traficantes de pessoas na selva que divide os dois países e que abriga ilegalmente, em sua maioria, refugiados e migrantes pobres de Mianmar e Bangladesh, que buscam na Malásia trabalho ou uma vida longe de perseguição política.
A descoberta dos campos aumentou a pressão dos países da região e da imprensa para uma ação contra os traficantes, que abandonaram os imigrantes nos campos e até mesmo em barcos no mar para evitar a prisão.
O ministro do Interior malaio, Zahid Hamidi, disse que a polícia tenta identificar todos os acampamentos ilegais encontrados na região próxima à fronteira com a Tailândia. Ele disse não haver um número oficial de corpos encontrados nas valas, mas que casa uma delas tinha entre um e quatro corpos.
Hamidi disse ainda estar chocado com a descoberta e que espera encontrar mais campos e sepulturas na região; "Ainda estamos investigando, mas eu suspeito que eles estão em funcionamento há pelo menos cinco anos", disse.
Grupos de direitos humanos e ativistas alertam que a área na fronteira entre Tailândia e Malásia tem sido usado há anos para contrabandear imigrantes e refugiados rohingya. Em muitos casos, eles pagam milhares de dólares a coiotes pela passagem, mas são mantidos durante semanas ou meses, enquanto os traficantes tentam extorquir mais dinheiro de suas famílias. Há relatos de que alguns foram espancados até a morte e outros escravizados em barcos de pesca.
Desde 10 de maio, mais de 3.600 pessoas, metade de Bangladesh e metade rohingyas de Mianmar, desembarcaram na Indonésia, Malásia e Tailândia. Outros milhares estariam presos em barcos abandonados por seus capitães no mar.