A Turquia entrou nesta segunda-feira em um período de instabilidade, um dia depois do duro revés nas eleições legislativas do partido do presidente islamita conservador Recep Tayyip Erdogan, que provocou a queda da lira turca e da Bolsa.
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Na votação, que Erdogan transformou em um plebiscito a respeito de sua liderança, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) perdeu no domingo a maioria absoluta que tinha há 13 anos no Parlamento, o que obrigará o partido pela primeira vez a formar uma coalizão ou a governar em minoria.
Os mercados responderam à instabilidade política, inédita desde 2002. A Bolsa de Istambul abriu em queda expressiva e no meio da sessão operava em baixa de quase 6%. Ao mesmo tempo, a moeda nacional era negociada a a 2,76 liras turcas por um dólar e 3,08 liras turcas por um euro.
O Banco Central respondeu com o anúncio de uma redução das taxas aplicadas aos depósitos de divisas a curto prazo, sem provocar um efeito imediato. O presidente islamita pediu aos partidos políticos que atuem com responsabilidade para preservar a "estabilidade".
"Neste novo processo é de importância crucial para todos os partidos políticos atuar com a sensibilidade necessária e adotar uma atitude responsável para preservar o clima de estabilidade e de confiança, assim como nossas conquistas democráticas", afirma Erdogan em um comunicado.
Deniz Ciçek, analista no Finansbank, acredita que "os resultados das eleições devem provocar intensas conversações e negociações políticas que durarão semanas".
De acordo com os resultados oficiais, o AKP permanece como o partido mais votado, com 40,8% dos votos, mas o número representa uma queda de quase 10 pontos na comparação com as eleições anteriores quando obteve 49,9% dos votos.
Vítima da desaceleração da economia e acusado pela oposição de uma guinada autoritária, o partido de Erdogan conquistou 258 das 550 cadeiras no Parlamento, bem abaixo da maioria absoluta (276 deputados).
O principal responsável pela queda do AKP foi o partido curdo HDP (Partido Democrático do Povo), que superou a barreira de 10% para entrar no Parlamento. O movimento liderado por Selahattin Demirtas recebeu 13,1% dos votos e elegeu 80 deputados.
- Derrota pessoal -
Os outros dois principais partidos turcos, o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata) e o Partido de Ação Nacionalista (MHP, direita), receberam 25% e 16,3% dos votos, que representam 133 e 80 cadeiras respectivamente. Os resultados abalam as ambições de Erdogan de perpetuar-se no poder.
Depois de 11 anos como primeiro-ministro, Erdogan foi eleito presidente em agosto do ano passado e fez uma campanha para que o AKP conquistasse as 330 cadeiras necessárias para reformar a Constituição e instaurar um regime presidencialista forte, que a oposição chamou de "ditadura constitucional".
"Os turcos responderam que não gostam de seu poder pessoal", resume o jornal Hürriyet. "Uma nova era", destaca o jornal Milliyet, enquanto o Sözcu cita um "cartão vermelho" para Erdogan.
Apesar dos três partidos da oposição contarem com a maioria necessária para formar uma coalizão e desbancar o AKP, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu descartou a hipótese, decidido a permanecer no poder. "Esta eleição demonstra mais uma vez que o AKP é a coluna vertebral do país", declarou Davutoglu. "Ainda temos dias belos pela frente", completou.
Ainda resta a possibilidade de uma coalizão do partido no poder com outra das três formações. Caso as negociações não apresentem resultados nos próximos 45 dias, Erdogan pode dissolver o Parlamento e convocar novas eleições.