Milhares de sírios estavam bloqueados neste domingo (14) na fronteira turca, após fugirem dos combates entre os jihadistas e as forças curdas, que se preparam para retomar o controle da cidade estratégica de Tall Abyad.
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Em menos de quatro dias, as Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), apoiadas por facções rebeldes sírias e ataques aéreos da coalizão internacional antijihadista, chegaram a menos de 5 km de Tall Abyad, localidade que o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) utiliza para a passagem de seus combatentes.
A cidade está localizada na província de Raqa, reduto do grupo extremista sunita na Síria.
Milhares de habitantes desta cidade, curda e árabe, fugiram dos combates, na expectativa de encontrar refúgio na Turquia. Mas na manhã deste domingo, continuavam a esperar, uma vez que o exército turco não tem permitido ninguém entrar, chegando a utilizar canhões d'água para afastar as pessoas.
O vice-ministro turco, Numan Kurtulmus, havia anunciado na quarta-feira que, diante do novo afluxo de refugiados, seu país fecharia localmente a fronteira, "a menos em caso de tragédia humana".
Segundo o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, 15.000 refugiados entraram na Turquia na semana passada antes do fechamento das fronteiras.
Ele acusou os combatentes curdos de atacar as populações árabes e turcomanas, e expressou sua preocupação quanto ao avanço das forças curdas, considerando que poderia constituir uma ameaça para a Turquia num futuro próximo.
Para Ancara, o Partido da União Democrática (PYD), o braço político das YPG, é uma filial síria do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, em conflito com o governo turco há tempos.
Os refugiados de Tall Abyad passaram a noite entre os combates e o arame farpado desabrigados. Muitos deles pediam ajuda e água, enquanto as temperaturas ultrapassam os 35 graus durante o dia.
O porta-voz das YPG, Redur Xelil, pediu aos civis que não fujam para a fronteira turca, mas para as cidades no interior da Síria.
Liberar a fronteira
As YPG também tomaram o controle de pelo menos 20 aldeias ao sudoeste de Tall Abyad, indicou o OSDH, com sede na Grã-Bretanha e que se baseia em uma vasta rede de fontes em toda a Síria.
"Eles estão na periferia leste de Tall Abyad, mas a frente do sudoeste é muito mais difícil, porque é mais populosa", explicou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Segundo Arin Shekhmos, um ativista curdo local que viaja junto com as YPG, "Tall Abyad está quase completamente cercada".
Na cidade, restam apenas 150 jihadistas que ameaçaram se retirar caso não recebam reforços de Raqa, "capital" do califado autoproclamado pelo EI nos territórios sob seu controle no Iraque e na Síria, indicou Rami Abdel Rahmane.
"Mas os líderes em Raqa não vão enviar reforços em razão dos ataques aéreos da coalizão que dizimam" as tropas do EI, segundo ele.
A coalizão liderada pelos Estados Unidos realiza há 10 meses ataques contra posições do EI, o que permitiu aos curdos retomar Kobane e outras localidades, mas sem ameaçar realmente destruir os jihadistas.
O objetivo das forças curdas com esta ofensiva em Tall Abyad é tomar o controle da totalidade da estrada que corta a cidade.
"Esperamos que toda a zona de fronteira, do nordeste da Síria até Kobane, seja liberada", declarou Mustafa Ebdi, um militante curdo.
Segundo ele, as forças curdas tentam cortar uma rota de abastecimento vital para o EI, que conecta Raqa a Tall Abyad.
As YPG já cortaram a estrada ao leste de Tall Abyad, depois de ter expulso os jihadistas de Soulouk, uma cidade próxima.
O EI, que utilizava Soulouk como base de homens e armas, "está completamente liberada. Os curdos estão vasculhando a cidade em busca de possíveis minas e carros-bombas", explicou Mustafa Ebdi.