O veículo que transporta uma comitiva de senadores brasileiros, que viajaram nesta quinta-feira (18) a Caracas para se reunir com opositores do governo, ficou parado na saída do aeroporto Simón Bolívar por causa de um bloqueio policial em uma estrada próxima.
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Como o veículo não conseguiu passar de uma alça de acesso à estrada que leva a Caracas, a comitiva de senadores decidiu voltar ao aeroporto.
A delegação, que viajou a bordo de um avião da FAB, é comandada por Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Previamente na saída do aeroporto, o micro-ônibus com os senadores foi cercada por dezenas de partidários do governo, muitos dos quais vestidos de vermelho, que bateram no veículo gritando: "Chávez não morreu, se multiplicou".
Para Aécio, a ação de manifestantes "foi uma agressão". "Nós fomos sitiados e impedidos de cumprir o objetivo da nossa missão. Isto é um claro incidente diplomático, e vamos exigir que a presidente Dilma convoque para consultas o embaixador em Caracas [Ruy Pereira] e tome outras providências cabíveis diante dessa situação lamentável", afirmou.
Já o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que "eles [manifestantes] foram claramente pagos pelo governo".
Após falar ao telefone com os senadores, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que vai cobrar da presidente Dilma Rousseff uma posição de repúdio do governo brasileiro às agressões.
Inicialmente, membros da escolta dos senadores disseram que o bloqueio na estrada se devia ao translado de um prisioneiro extraditado da Colômbia.
Posteriormente, a deputada cassada María Corina Machado informou, pelo Twitter, que os túneis da estrada Caracas-La Guaira, por onde passaria a comitiva, estão passando por limpeza desde a manhã.
Aguardando no estacionamento de um anexo do aeroporto, os parlamentares esperam agora que a embaixada brasileira interceda para a liberação da via.
O senador Cunha Lima criticou a posição do embaixador, Ruy Pereira: "Ele não fez o que se espera de uma assistência institucional. Lavou as mãos".
De acordo com os senadores, a embaixada informou que tentou contato com a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, mas foi comunicada que ela estava em uma reunião de governo - o presidente Nicolás Maduro discursa em cadeia nacional há mais de uma hora.
Para o Aécio, é difícil imaginar que essa situação não seja possível sem a conivência das autoridades locais.
Questionado pela reportagem se ele avalia que a embaixada está fazendo tudo o que pode, o senador mineiro disse que só poderia responder essa pergunta ao final da estada.
Também integram a comitiva José Agripino (DEM), Ronaldo Caiado (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB), José Medeiros (PPS) e Sérgio Petecão (PSD).
"Não conseguimos sair do aeroporto. Sitiaram o nosso ônibus, bateram, tentaram quebrá-lo", disse Caiado.
A previsão era de que, após saírem do aeroporto, os senadores seguissem direto até o presídio de Ramo Verde, nos arredores da capital, onde tentariam visitar o opositor Leopoldo López, detido há mais de ano por instigar violentos protestos contra o presidente socialista Nicolás Maduro, em 2014.
Durante a tarde, os senadores planejavam almoçar com representantes da MUD, principal coalizão opositora, e manter reuniões com parentes de estudantes presos por envolvimento nas manifestações do ano passado.
Também estava prevista uma visita ao prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, que está em prisão domiciliar.
A comitiva deveria embarcar de volta ao Brasil na noite desta quinta-feira.
Para se contrapor à presença dos senadores, o governo venezuelano convidou um grupo de brasileiros militantes de esquerda e membros de sindicatos, que cumpre agenda de encontros e aparições na mídia estatal.