Diante de novas exigências dos credores, não houve acordo nesta quarta-feira (24) para evitar um calote da Grécia e baixar o risco de o país deixar a zona do euro.
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Após reunião em Bruxelas, a terceira em uma semana, os ministros de Finanças do bloco não avançaram para anunciar uma solução.
Todos aguardam as conversas, também na cidade belga, entre o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e os dois credores, FMI (Fundo Monetário Internacional) e BCE (Banco Central Europeu). Nova reunião deve ocorrer ainda esta noite entre as partes.
O país precisa pagar até terça-feira (30) uma dívida de 1,6 bilhão de euros com o FMI. Para quitá-la, tenta desbloquear 7,2 bilhões de euros, a última parte do socorro de 240 bilhões de euros recebido do FMI e BCE desde 2010.
A Grécia fez no começo da semana uma proposta de ajuste fiscal de 7,9 bilhões de euros até 2016 para receber a verba. Havia uma expectativa de solução depois de um aceno positivo dos líderes dos países europeus.
Nos últimos dois dias, no entanto, os credores analisaram tecnicamente a oferta e apresentaram uma contraproposta, inicialmente rejeitada por Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza.
Segundo o presidente do Eurogrupo, holandês Jeroen Dijsselbloem, as negociações devem continuar à espera de uma solução nesta quinta (25), quando outros líderes estarão na Bélgica para o primeiro de dois dias de cúpula da União Europeia, convocada para discutir outros temas.
O efeito do calote no FMI seria imediato. Com o bloqueio dos 7,2 bilhões de euros, a Grécia não pagaria sua dívida e ficaria pela primeira vez sem ajuda externa desde a crise de 2010, aumentando o risco de deixar a zona do euro.
Em sua conta no Twitter, o premiê afirmou nesta quarta-feira (24) que não havia "interesse" do outro lado em selar um acordo.
FMI e BCE exigiram mais recolhimento de imposto e endurecimento na reforma previdenciária. Cobraram ainda que parte das medidas passe a valer a partir de julho, logo após expirar o prazo da dívida grega.
Tsipras alega que precisa de tempo para votá-las no Parlamento, até porque membros do seu partido, o Syriza, e do aliado de coalizão, os Gregos Independentes, têm se mostrado resistentes a determinados pontos. Pela oferta de Atenas, as principais medidas teriam força a partir de outubro.
Na sua reforma previdenciária, a Grécia sugeriu um limite de 67 anos para quem se aposentar em 2025. Os credores querem que esse prazo seja 2022 e que o país suba de 0,4% para 1% do PIB a arrecadação em 2015 com as mudanças no setor. FMI e BCE pedem também que a receita com a reforma do IVA, o imposto sobre valor agregado, seja de 1% do PIB e não 0,74%, como quer Atenas. Solicitaram que o governo dobre a promessa de cortar 200 milhões de euros os gastos com Defesa.
Com o calote, os bancos gregos teriam de conter saques -pelo menos 5 bilhões de euros foram retirados na semana passada. Em resposta para dar uma sobrevida, o BCE aumentou a margem de assistência de liquidez de emergência ao bancos gregos. Discute-se já a possibilidade de o governo ter de impor um controle de saques, uma medida impopular para um partido eleito em janeiro com o discurso contra medidas de austeridade adotadas pelos governo anteriores, de centro-direita.
A Grécia cresceu 0,8% em 2014, mas o desemprego continua o maior da Europa (25%), a dívida pública ronda 175% do PIB (era 129% em 2009) e a economia encolheu 25% em cinco anos.