A esperança cresceu entre os cubanos nesta quarta-feira (1º) depois que o presidente americano, Barack Obama, e seu colega Raul Castro anunciaram sua decisão de restabelecer relações diplomáticas plenas e proceder com a reabertura de suas embaixadas, concluindo o último capítulo da Guerra Fria na América.
"Queira Deus que esta notícia mude a situação", disse à AFP Maria Caridad Fernández, de 51 anos, que acompanhava seu pai em uma praça antes de entrar no consulado americano em Havana para pedir um visto.
"Eles deveriam ter feito isso anos atrás", disse Freddy Torres, de 40 anos, que caminhava pela "Praça dos Suspiros", o apelido da praça onde centenas de cubanos esperam longas horas todos os dias antes de entrar para solicitar o visto tão desejado.
A Seção de Interesses dos Estados Unidos (SINA), localizada ao lado do famoso Malecón de Havana, cumpre funções consulares desde 1977, mas vai se tornar embaixada uma vez que os dois países restaurarem as relações diplomáticas depois de meio século.
"A notícia se espalhou rápido aqui do outro lado da rua da SINA. Isso é ótimo e vai beneficiar a todos, cubanos e americanos", afirmou à AFP Juan Ruberto Fernandez.
"Em meus 77 anos de vida, nunca teria pensado que Cuba e os Estados Unidos poderiam entrar em acordo, porque éramos como gato e rato", acrescentou.
A restauração das relações, rompidas em janeiro de 1961 pelo então presidente Dwight Eisenhower, será formalizada em 20 de julho, segundo Raul Castro.
Esta espera de quase três semanas não preocupa os cubanos, que há muito aguardam uma reaproximação depois de meio século de disputas com Washington e um embargo que afetou profundamente a economia da ilha comunista e os padrões de vida dos seus habitantes.
"Esta notícia desperta grandes expectativas entre os cubanos, porque vivemos muitos anos de hostilidade com os Estados Unidos. Pode ser que haja uma melhoria na economia e uma ampliação do intercâmbio cultural", indicou a cantora Yunia Cisneros, de 33 anos, que veio pedir um visto para viajar para um festival na Carolina do Norte.
"A abertura da embaixada é uma porta aberta a muitas possibilidades, tais como viagens ou prosperidade comercial", acredita Marie Lady, de 23 anos, funcionária de uma loja de 'souvenirs' em Havana Velha.
"Se Kerry vem é porque a coisa é séria"-
O anúncio dos presidentes também foi elogiado pelo músico americano Douglas Little, que está em Cuba para participar de um festival: "Tivemos a Guerra do Vietnã, onde muitas pessoas morreram, mas agora temos relações normais com o Vietnã", disse à AFP.
A reabertura das embaixadas acontecerá no mesmo mês em que ambos os países comemoram seu principal feriado nacional (4 de julho nos Estados Unidos e 26 em Cuba).
Com as embaixadas haverá um caminho direto para o diálogo entre os dois países para abordar questões de interesse comum e que ilustram as muitas diferenças, que vão desde a migração aos direitos humanos, além da base naval americana em Guantánamo (no leste da ilha).
Obama anunciou que será o próprio secretário de Estado, John Kerry, que viajará à ilha para levantar a bandeira na nova embaixada americana, um bom sinal para alguns cubanos.
"Se o secretário Kerry vem, isso significa que as coisas estão sérias", disse a cantora Cisneros.
Mas Madelaine del Pino, de 33 anos, que ganha a vida preenchendo formulários de vistos, permanece cética: "só vou acreditar quando ver, porque muitas coisas são ditas, mas nem todos são cumpridas".