Trégua

Farc decretam cessar-fogo unilateral por um mês na Colômbia

Guerrilha respondeu a um apelo dos quatro países que acompanham o processo de paz para o país

Da AFP
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Publicado em 08/07/2015 às 14:36
Foto: GUILLERMO LEGARIA / AFP
Guerrilha respondeu a um apelo dos quatro países que acompanham o processo de paz para o país - FOTO: Foto: GUILLERMO LEGARIA / AFP
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A guerrilha comunista das Farc anunciou nesta quarta-feira (8) que ordenará um cessar-fogo unilateral por um mês a partir de 20 de julho para desescalar o conflito armado, respondendo a um apelo dos quatro países que acompanham o processo de paz para a Colômbia.

"Com base no espírito do apelo dos fiadores do processo, Cuba e Noruega, e dos acompanhantes do mesmo, Venezuela e Chile, anunciamos nossa disposição de ordenar um cessar-fogo unilateral a partir de 20 de julho, por um mês", disse à imprensa o chefe negociador das Farc, Iván Márquez.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, elogiou a nova trégua unilateral das Farc (a anterior durou cinco meses, até maio), mas disse que "é preciso mais", e pediu compromissos para acelerar os diálogos de paz, iniciados em 2012.

"Apreciamos o gesto de cessar-fogo unilateral das Farc, mas é preciso mais, sobretudo compromissos concretos para acelerar as negociações", escreveu o presidente colombiano em sua conta do Twitter.

A ONU na Colômbia também comemorou a atidude das Farc.

"Trata-se de um primeiro passo muito significativo em direção à desescalada das hostilidades, que é tão necessária nesta conjuntura do processo", afirmou em um comunicado o Sistema das Nações Unidas em Bogotá.

"Esperamos que esta medida, assim como as ações de cessar-fogo unilateral anteriores das FARC-EP, tenha um impacto positivo em aliviar o sofrimento da população civil em zonas de conflito e ajude a fortalecer a confiança no processo de paz", acrescentou o texto.

Na terça-feira os quatro países que participam das negociações em Havana fizeram um apelo às partes por uma desescalada urgente do conflito armado, que já dura mais de meio século e que se intensificou nas últimas semanas com dezenas de baixas nos dois grupos e danos à infraestrutura e ao meio ambiente.

Márquez, que na terça-feira agradeceu o apelo, indicou que com o cessar-fogo unilateral a guerrilha busca "gerar condições favoráveis para avançar com a contraparte na concretização do cessar-fogo bilateral e definitivo".

 

Salva-vidas 

"Não é que as Farc estejam pressionando o governo para um cessar-fogo bilateral, mas o contrário: se sentiram pressionadas pela opinião pública", disse à AFP em Bogotá o analista Ariel Ávila, da Fundação Paz e Reconciliação, especializada no conflito.

Ávila indicou que o anúncio da guerrilha constitui um "salva-vidas político ao processo de paz", que enfrenta muitas críticas na Colômbia por seu lento avanço e pela intensificação das hostilidades.

Desde o início das negociações de Havana, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) propuseram uma trégua bilateral enquanto ocorrem as negociações de paz, o que Santos rejeitou reiteradamente.

"O caminho para o cessar-fogo bilateral começa a ser traçado outra vez, vai começar uma desescalada. Uma parte cede, a outra cede, até que em quatro ou cinco meses teremos este cessar-fogo bilateral, mas no momento (um cessar-fogo) decretado pelo governo é inviável. Será feito pouco a pouco", afirmou Ávila.

 

Trégua desvalorizada

As Farc colocaram em vigor sua trégua unilateral por tempo indefinido em dezembro, mas a levantaram em maio após uma série de ataques militares nos quais trinta guerrilheiros morreram.

Márquez acusou na terça-feira o governo de ter aumentado as incursões militares contra as Farc enquanto elas cumpriam sua trégua unilateral e afirmou que as autoridades não souberam valorizar este gesto da guerrilha.

Além da trégua mantida por cinco meses, as Farc decretaram outras mais breves desde 2012, por ocasião das festas de fim de ano e das eleições colombianas.

O governo e as Farc se culpam mutuamente sobre a responsabilidade de ter provocado a escalada do último conflito armado na América, que já dura meio século e que deixou 220.000 mortos e seis milhões de deslocados.

O primeiro grande incidente ocorreu em meados de abril, quando uma emboscada guerrilheira deixou 11 militares mortos. As Farc alegam que se tratou de uma ação defensiva, já que os soldados estavam perseguindo um destacamento guerrilheiro em uma zona sob controle rebelde.

Um mês depois o governo lançou uma série de ataques contra posições rebeldes, o que levou as Farc a levantar sua trégua.

As duas partes estão perto de fechar um acordo parcial sobre reparação às vítimas, e podem anunciá-lo na segunda-feira, quando se encerra este ciclo de negociações de paz.

O governo e as Farc entraram em acordo até agora sobre três dos seis pontos da agenda e também acordaram um programa de desminagem e a criação de uma Comissão da Verdade.

Também nesta quarta-feira, ao menos 14 pessoas foram capturadas na Colômbia em conexão com atentados com explosivos ocorridos em Bogotá no último ano, informou o presidente Santos, que vinculou os detidos com a guerrilha guevarista do ELN.

"Continuaremos operativos para encontrar todos os responsáveis por semear o terror na capital", escreveu Santos em sua conta no Twitter, depois de confirmar as 14 capturas e mencionar "pessoas do ELN responsáveis por bombas em Bogotá".

A cidade, de oito milhões de habitantes, foi atingida na última quinta-feira por duas explosões em dois pontos diferentes, que deixaram 10 feridos leves e danos materiais.

Um dia depois, Santos apontou como possível responsável pelo ocorrido o Exército de Libertação Nacional (ELN), segunda guerrilha da Colômbia.

O ELN já havia sido apontado como responsável por vários ataques com explosivos na capital em meses anteriores.

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