Após mais de um ano da inauguração e US$ 67,5 milhões (R$ 210 milhões) investidos, os três hospitais comunitários construídos pelo Brasil no Haiti ainda não estão funcionando totalmente.
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Planejados para realizar atendimentos de cirurgia simples, ginecologia e obstetrícia, pediatria, medicina interna e geral e pronto socorro, os hospitais têm seus centros cirúrgicos e unidades de terapia intensivas fechados.
Desde que passou a gerência dos hospitais ao Haiti, em novembro de 2014, o governo brasileiro tem exercido pressão sob o Ministério da Saúde Pública e da População do Haiti para que coloque as unidades em funcionamento.
"É um processo sempre penoso, tudo aqui tem que ser acompanhado de perto, temos que insistir, e a ONU (Organização das Nações Unidas) também é envolvida", diz José Luiz Machado e Costa, embaixador do Brasil no Haiti.
Segundo o diplomata, para que as unidades operem em plena capacidade é preciso que o Haiti termine de preparar as enfermeiras, os operários de equipamentos, de áreas administrativas e de apoio.
Os hospitais construídos em Bon Repos, Carrefour e Beudet, regiões metropolitanas da capital Porto Príncipe, nasceram de um projeto de cooperação tripartite entre Brasil, Cuba e Haiti. A parceria inclui a construção e reforma do Instituto Haitiano de Reabilitação e do Laboratório de Órteses e Próteses.
Assinada em março de 2010, a iniciativa teve como objetivo fortalecer o sistema de saúde haitiano após o terremoto naquele ano.
No acordo, o Brasil se comprometeu a construir as unidades, Cuba a enviar mão de obra especializada e o Haiti a administrá-las.
A ministra da saúde haitiana, Florence Guillaume, admitiu que, apesar de os atendimentos de primeiros socorros funcionarem, alguns serviços operacionais estão parados.
"A parte cirúrgica ainda não foi iniciada. Houve um problema nos equipamentos que não eram adaptados às infraestruturas. Também falta o ar condicionado", conta.
A ministra afirma que o atraso não se deve a sua gestão, mas a uma série de problemas relacionados aos equipamentos hospitalares enviados pelo Unops (Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos), parceiro da cooperação.
Procurado, o escritório do Unops no Haiti confirmou o atraso e disse que a situação foi corrigida.
Os problemas, porém, se estenderam dentro da parte haitiana no acordo. Ao atrasar a construção de abrigos para os cubanos, os médicos se recusaram a trabalhar.
"Já resolvemos o problema da hospedagem e agora tentamos garantir o transporte cotidiano deles", diz a ministra.
O Ministério da Saúde informa em nota que está acompanhando o projeto com missões técnicas, reuniões do comitê gestor e pela embaixada.
MAIS DINHEIRO
Os US$ 67,5 milhões (R$ 210 milhões) investidos pelo Brasil na saúde haitiana foram aprovados como crédito extraordinário pelo Congresso Nacional, em 2010. Os hospitais devem beneficiar 3 milhões de pessoas.
Esse valor envolve a formação de 1.254 agentes comunitários, 276 auxiliares de enfermagem e 53 agentes de vigilância sanitária, 30 ambulâncias, vacinação de 3 milhões de crianças, dois caminhões de armazenamento de vacinas, reconstrução de dois laboratórios e aquisição de equipamentos para vigilância epidemiológica.
Nesta quantia, também está incluída a manutenção dos hospitais por dois anos. O prazo se encerra em junho de 2016, o que já tem provocado temores no Haiti.
"Não sabemos o que vai acontecer quando o Brasil tirar os financiamentos, pois a tesouraria haitiana ainda não pode assumir para garantir atendimento grátis. Não temos estabilidade financeira", diz a ministra.
"Queríamos que o Brasil prolongasse o acompanhamento financeiro e técnico a longo prazo. Não estaremos prontos para sustentar os hospitais".
No entanto, segundo o Ministério da Saúde, não há expectativa para o envio de mais recursos.
Ainda como parte desse projeto, está em curso, a pedido do presidente haitiano Michel Martelly ao ministro da Saúde brasileiro Arthur Chioro, o projeto de construção do primeiro centro de saúde mental do Haiti.