O plano contra as mudanças climáticas anunciado por Barack Obama foi saudado como um avanço que dá a ele credibilidade meses antes da conferência de Paris, mas os especialistas consideram insuficientes as medidas americanas para limitar a 2ºC o aquecimento do planeta.
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Autoridades e analistas estimam que o plano de energia limpa de Obama, criticado pela oposição republicana, dá um sinal de boa vontade e se une aos esforços internacionais para alcançar um acordo no encontro de Paris do fim do ano.
Advertem, no entanto, que é preciso muito mais da parte dos Estados Unidos e de outras nações para voltar a encarrilar o mundo em direção ao objetivo da ONU de limitar o aquecimento do planeta a dois graus Celsius acima do nível da era pré-industrial.
O presidente francês, François Hollande, anfitrião da conferência do fim do ano, saudou a coragem de Obama e considerou que seu plano é uma etapa chave na eliminação do carbono da economia americana.
"Marca um ponto de ruptura ao fixar pela primeira vez o objetivo de redução das emissões de CO2 na produção de energia", comemorou o presidente francês.
O plano de Washington impõe, em particular, que as centrais elétricas reduzam em 32% suas emissões de carbono até 2030.
As usinas de geração elétrica representam 40% das emissões norte-americanas de CO2, principal responsável pelo efeito estufa que está aquecendo o planeta.
Passo insuficiente
Os Estados Unidos são o segundo emissor depois da China. Nenhuma das duas potências faziam parte do último acordo multinacional no tema, conhecido como protocolo de Kioto.
O acordo que será negociado em dezembro em Paris - o primeiro a envolver todos os países do mundo - incluirá os compromissos de cada um para limitar a emissão de CO2.
Os Estados Unidos se comprometeram com uma redução de 26% a 28% em relação aos níveis de 2005 até 2025, e o Plano de Energia Limpa (Clean Power Plan) é parte da estratégia para alcançar esta meta.
"Trata-se definitivamente de um avanço em relação ao que estava acontecendo até agora no setor energético dos Estados Unidos", comentou à AFP o analista especialista em mudanças climáticas Niklas Hoehne, do New Climate Institute.
"No entanto, acrescentou, embora seja um passo importante em direção ao cumprimento do compromisso americano, por si só é insuficiente".
Antes existia uma lacuna de 1,5 gigatonelada entre o compromisso americano em matéria de emissão de gases poluentes da meta 2025 e as medidas que estava adotando, disse Hohne.
Agora esta diferença caiu em um terço - 500 megatoneladas - ao menos no papel. "Os Estados Unidos estão mais próximos de alcançar o prometido, digamos que percorreram um terço do caminho".
No entanto, os especialistas advertem que ainda é preciso definir como os Estados Unidos reduzirão a gigatonelada restante através de medidas adotadas em outros setores.
Além da oposição republicana, o plano de Obama foi criticado por um grupo de pressão pró-carvão (American Coalition for Clean Coal Electricity), que ameaçou com prováveis ações legais. Obama "está colocando em andamento um plano ilegal que aumentará os custos da eletricidade e deixará as pessoas sem emprego", advertiu.
O anúncio é o início de uma cruzada ambiental que pode definir o legado de Obama.
Neste mês, o presidente democrata visitará o estado ártico do Alasca para chamar a atenção sobre o impacto das mudanças climáticas. Em setembro, receberá o papa Francisco na Casa Branca, onde está previsto que os dois façam um apaixonado apelo à ação, antes da conferência de Paris.