Com quase quatro anos de atraso, as eleições legislativas serão realizadas neste domingo (9) no Haiti, mas diante de uma campanha fraca e tardia, os cidadãos demonstram muito pouco interesse durante as campanhas.
Leia Também
Retratos de candidatos e cartazes com as cores de diversos partidos invadiram tardiamente o espaço público. Em frente a um poste coberto de fotos de vários candidatos a deputados ou senadores, Luckson permanece totalmente indiferente.
"Eu o conheço, mas ele não fará nada por mim. Quanto a ela, eu nunca a tinha visto", disse um engraxate ao olhar os cartazes na rua.
Os comerciantes vizinhos e seus clientes falam sobre a identidade dos candidatos, discutem sobre o passado desses aspirantes aos postos legislativos. Mas todos estão de acordo em um ponto: não irão votar no domingo, "porque isso não serve para nada".
Em um país onde a política é vista como um espaço de clientelismo e corrupção, a grande maioria dos cidadãos pobres não acredita no poder de seus votos.
Nas últimas eleições realizadas no Haiti - o segundo turno das campanhas presidenciais em 2011 -, menos de um quarto dos cidadãos deram seu voto.
Para renovar este domingo todos os cargos de deputados e dois terços do Senado, as estimativas preveem uma taxa de participação de apenas 15% dos eleitores.
A comunidade internacional, que oferece apoio financeiro e logístico para celebrar essas eleições, se inquieta diante da apatia dos haitianos porque ameaça o sucesso das eleições.
Mil e oitocentos candidatos
Sandra Honoré, chefe da missão da ONU no Haiti, pediu na terça-feira que os eleitores compareçam às urnas.
"A participação de vocês em grande número e a decisão de dizer adeus a qualquer forma de violência é a ocasião de vocês demonstrarem que elegem definitivamente a paz e a democracia", disse em creole Honoré em vídeo divulgado pela internet.
Na convocação, em março deste ano, o processo eleitoral foi marcado por uma avalanche de candidaturas: mais de 1.800 aspirantes a ocupar os 129 postos parlamentares em jogo. Um entusiasmo hoje ausente, a poucos dias da votação.
"A intensidade da campanha foi muito fraca", afirma José Antonio de Gabriel, chefe-adjunto da missão de observação eleitoral da União Europeia (UE). "Não vemos uma forte mobilização dos candidatos e dos partidos", acrescenta.
A extensão desse processo eleitoral permite explicar a ausência de atos públicos e de mobilização dos cidadãos. Deputados, senadores, prefeitos, legisladores locais e presidente da república: até dezembro, o Haiti renovará quase todo o seu cenário político.
O domingo não é mais do que a primeira das três eleições organizadas no país até o final do ano. "Os haitianos têm pela frente um longo processo eleitoral com três campanhas, o que não é fácil para as finanças dos partidos", reconhece Gabriel.
Muitos partidos não têm nada além dos cartazes colados nas paredes para mostrar a seus eleitores. Não há um projeto político.
"Vemos que no Haiti as eleições legislativas têm um forte componente local: seria bom para os candidatos apresentar programas estruturados e promover o debate de ideias. Por enquanto, vemos muito pouco disso", lamenta o chefe adjunto da missão de observação eleitoral da UE.
Luckson, que trabalha seis dias por semana para poder alimentar sua família, ri da ideia de votar em função dos programas dos candidatos. "Isso é estranho para os estrangeiros. Os candidatos sempre prometem muito, mas no final, nós pobres, não temos nada".